Decorre um banquete na cave que reúne o underground norte-americano. O prato do dia é grindcore e o cheiro ácido que este exala não passa despercebido ao olfacto dos mais curiosos. Os Napalm Death conseguiram transformar uma música de apenas dez segundos num teledisco, The Locust (a par de The Dillinger Escape Plan) trazem consigo uma praga sonora capaz de fazer mossa no meio musical. Uma capacidade superior de seduzir o caos e o absurdo (reparem nos títulos das músicas) é o cartão de visita destes The Locust. O que à partida pode soar monocórdico e absolutamente intragável vai-se compondo numa demente e intrigante avalanche de violência sonora.

Ciente de que a banda de San Diego é um caso flagrante de "amem-nos / odeiem-nos", era preferível render-me sem reservas a Plague Soundscapes. O bizarro imbróglio sónico não me cativou às primeiras escutas, mas, após digestão demorada, é difícil passar sem os berros perturbadores e efeitos electrónicos sui generis que nos mergulham no vicioso ciclo onde somos obrigados a voltar a escutar o disco, nem que seja para satisfazer os sentidos que reclamam por aquele som específico que não nos sai da cabeça. O álbum é, deste modo, elevado ao estatuto de narcótico altamente aditivo e a descarga tóxica que vai libertando (ao longo de vinte e um minutos intensos) pode causar danos irreversíveis – obsessão súbita pelo submundo do grindcore ou familiarização progressiva com sonoridades que odiávamos até aqui.
Plague Soundscapes surpreenderá os mais desprevenidos com músicas que duram menos de um minuto e que, mesmo assim, parecem comportar toda a fúria e angústia de uma mão cheia de bandas que não conhecem outro tema além dos mais que explorados traumas de infância. Esta banda-sonora do cataclismo é um ameaçador desafio a todas essas constelações de “wanna be’s”. Certamente que muitos lhes apontarão o dedo por serem maçadores ou meros cultivadores de ruído, eu saúdo-os com uma sentida vénia por me terem feito acreditar que o futuro pode passar por aqui.

A prenda ideal de para aquele primo de quinze anos que ainda acha que os Korn são a melhor banda do mundo. Plague Soundscapes poderá mudar-lhe a vida ou acabar nos escaparates da Carbono, onde será adquirido por alguém de gosto mais arrojado por metade do preço. A praga perfeita.