DISCOS
St. Germain
St. Germain
· 17 Nov 2015 · 12:11 ·

St. Germain
St. Germain
2015
Warner Music
Sítios oficiais:
- St. Germain
- Warner Music
St. Germain
2015
Warner Music
Sítios oficiais:
- St. Germain
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St. Germain
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2015
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- St. Germain
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2015
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Descartou o conforto mundano para sentir a prazerosa tessitura da terra sob os pés.
De Ludovic Navarre há muito não ouvíamos falar. Mas de certeza que ele nunca desapareceu da memória colectiva – pelo menos da gente que viveu os anos 90 com o mínimo de atenção. Boulevard, de 1995, ainda hoje é uma referência incontornável – há quem diga que o disco abriu a porta para a vaga do french touch; considerações, cada um com as suas. Ele de alguma forma redireccionou o acid-jazz, sem o desprezar: adicionou-lhe deep-house de geometria perfeita, assomou-lhe blues festivo – muito sentido –, e fez do jazz-hip-hop algo de que Herbie Hancock se orgulhasse. O subsequente, Tourist (2000), apostou na diversidade, mas dispersou-se na paleta, no propósito; havia algo redundante na sua existência, na viagem que enunciava; teve pelo menos o condão de conquistar as passarelas e os bares em busca de bonomias rítmicas.
Quinze anos voaram. St. Germain é Navarre sem vontade de se repetir – contudo ainda está consciente do que trouxe ao hip-hop e à deep-house. É alguém focado numa determinada viagem que fez a África, em concreto ao Mali. Alguém que vagueou e encontrou gente que lhe proporcionou algo de único, e que o inspirou intrinsecamente. Se olharmos para este terceiro disco de originais demasiado concentrados nos discos anteriores, o mais provável é sentir algum amargo na boca. Ludovic Navarre não demorou este tempo todo para escarrapachar algo que as passarelas aplaudiriam de imediato. Não. Este disco tem um tempero pessoalizado, um travo que demora a interiorizar.
St. Germain mantém uma produção impecável: aconchega o blues (amiúde sacado de obscuras obras) para manter uma ligação elementar ao passado; compreende que a house e o hip-hop não funcionam como há vinte anos, e delicia-se com as diferenças, seguindo em frente como quer; e depois entrega-se a exercícios jazz contrapondo amor, bem-estar, momentos Zen sobre batidas porosas. Escorre elegância por todos os poros deste disco. Mas é indagando em profundidade nesta música, escutando as minudências – e há aqui um paralelismo interessante com o que Kuniyuki Takahashi faz quando devidamente estimulado –, que acabamos por encontrar o mais importante: a devida recompensa pelo tempo investido. É ao fechar os olhos, deixando-nos envolver, que se torna possível sentir o poder do amor da Mãe-África, o brilho da ancestralidade, a dignidade da Humanidade. Só por aí, não fará mal a ninguém ouvir este simpático disco.
Rafael SantosQuinze anos voaram. St. Germain é Navarre sem vontade de se repetir – contudo ainda está consciente do que trouxe ao hip-hop e à deep-house. É alguém focado numa determinada viagem que fez a África, em concreto ao Mali. Alguém que vagueou e encontrou gente que lhe proporcionou algo de único, e que o inspirou intrinsecamente. Se olharmos para este terceiro disco de originais demasiado concentrados nos discos anteriores, o mais provável é sentir algum amargo na boca. Ludovic Navarre não demorou este tempo todo para escarrapachar algo que as passarelas aplaudiriam de imediato. Não. Este disco tem um tempero pessoalizado, um travo que demora a interiorizar.
St. Germain mantém uma produção impecável: aconchega o blues (amiúde sacado de obscuras obras) para manter uma ligação elementar ao passado; compreende que a house e o hip-hop não funcionam como há vinte anos, e delicia-se com as diferenças, seguindo em frente como quer; e depois entrega-se a exercícios jazz contrapondo amor, bem-estar, momentos Zen sobre batidas porosas. Escorre elegância por todos os poros deste disco. Mas é indagando em profundidade nesta música, escutando as minudências – e há aqui um paralelismo interessante com o que Kuniyuki Takahashi faz quando devidamente estimulado –, que acabamos por encontrar o mais importante: a devida recompensa pelo tempo investido. É ao fechar os olhos, deixando-nos envolver, que se torna possível sentir o poder do amor da Mãe-África, o brilho da ancestralidade, a dignidade da Humanidade. Só por aí, não fará mal a ninguém ouvir este simpático disco.
r_b_santos_world@hotmail.com
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