DISCOS
Bardo Pond
Record Store Day Trilogy
· 02 Nov 2015 · 23:46 ·
Bardo Pond
Record Store Day Trilogy
2015
Fire Records
Bardo Pond
Record Store Day Trilogy
2015
Fire Records
Compilação de luxo.
Há mais de vinte anos que os Bardo Pond andam a espalhar psicadelismo pelo mundo, através de discos lisérgicos e cativantes como Lapsed, Dilate ou o homónimo que editaram, em 2010. E sim, o termo psicadélico anda a ser extremamente sobreutilizado, hoje em dia. Não há canto musical que não contenha um quarto de ácido pronto a ser tragado. É como se Altamont nunca tivesse acontecido, e as promessas dos anos 60 se mantivessem intactas, mesmo por entre o caos que faz tremer o mundo. Se por um lado isto é excelente, por outro enche as airwaves da mesma coisa repetida até à exaustão. E é necessário um pouco de caos para sabermos o que é a ordem.

No entanto, quando há um manifesto psicadélico que contém, dentro de si, a propriedade máxima do psicadelismo - transportar-nos numa viagem longa pelo interior de nós para que saibamos quem ou o que somos - não podemos cair na tentação de o ignorar como ignoraríamos qualquer novo hype em formato de like. Os Bardo Pond merecem-nos esse respeito, porque não só estão cá há mais tempo do que a juventude que hoje se diz psicadélica, como também foram dos que desenharam a blueprint para muito do rock desse tipo que se escuta hoje.

Tal como o título indica, Record Store Day Trilogy é ao mesmo tempo um tributo ao dia do ano em que, aparentemente, é fixe comprar discos e um compêndio de três EPs que os Bardo Pond haviam lançado nos anos anteriores, EPs esses contendo versões de artistas tão díspares quanto os Funkadelic ou Brian Eno (que talvez não sejam tão díspares assim). E é um manifesto: uma tour de force de uma hora e quarenta que merece ser escutada desta forma, e não quebrada de duas em duas canções. O efeito é muito maior.

Um efeito que se ergue na interpretação maravilhosa de "Maggot Brain", cujo funk quase que desaparece por completo e dá lugar a uma sucessão de riffs e contra-riffs que nos levantam do chão como um tapete mágico - a América segundo os alemães; e que faz com que o início suave de "Ride Into The Sun", dos Velvet Underground, soe maravilhosamente no meio do ruído, antes de também ela se desmoronar; e que nos apresenta, para nosso deleite, uma versão shoegaze de "Here Come The Warm Jets", de Brian Eno. O espaço inteiro em apenas seis canções. Maravilhoso.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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