DISCOS
Boof
The Hydrangeas Whisper
· 21 Out 2015 · 11:26 ·
Boof
The Hydrangeas Whisper
2015
Running Back ‎


Sítios oficiais:
- Running Back ‎
Boof
The Hydrangeas Whisper
2015
Running Back ‎


Sítios oficiais:
- Running Back ‎
Um veterano com frescura no fazer.
Ímpeto para produzir não lhe falta, e há décadas que se assomam alter-egos, uns atrás dos outros. Não me espanta nada que tropece na sua música com regularidade desconhecendo inicialmente que é Maurice Fulton o homem por detrás dela. Exemplos simples?

Cruzei-me por acaso com A Blink Of An Eye (2013) de Syclops enquanto conduzia e ouvia o programa da Isilda Sanches (na Oxigénio), onde o convidado (não me recordo qual) propôs “5 In” para escuta. O atrevimento daquele som atraiu-me de imediato. Procurei o resto do manifesto. Conclusão: A Blink Of An Eye tinha como um dos gestores Maurice Fulton.

O disco não era, e mesmo agora não é, uma obra aberta a todos: pragmático, pensado para mentes progressistas a almejar devassidão jazz-rock, respeitador ao mesmo tempo dos maneirismos de Detroit e de Chicago; ou seja encontrei à época um produtor fusionista a explorar uma frente sonora à qual jamais o associaria à primeira. Há dias assim... de estranhas desatenções.

Encontrei The Hydrangeas Whisper(desconhecendo quem era o mentor!) como encontro tantos outros discos: vadiava de site em site quando... uma florida capa me chamou a atenção (uma boa capa é capaz de muito). Parei, escutei o disco com interesse e informei-me; e lá estava ele, Fulton. Fui forçado a procurar os discos anteriores de Boof para ganhar perspectiva mas... com as escutas sucessivas de The Hydrangeas Whisper, foi curiosamente o disco de 2013 de Syclops que me veio à mente (nunca me esquecendo, contudo, que o último original de Boof foi editado em 2011).

The Hydrangeas Whisper ganha por simpatia a A Blink Of An Eye: não é de grandes contrastes, ou perigosidades; não há entrecruzamentos, por exemplo, com o jazz a aspirar o improv, ou rock alienado. Aqui, além do braço de ferro entre o techno e o house, que se sabem desafiar sem se apalermar, Boof mostra força composicional noutra vertente quando pop ambiental, funk, disco e boogie almejam desesperadamente melodias refulgentes; e Maurice permite que tudo aconteça, nunca vacilando na maneira como funde e infunde.

Este disco é bem mais harmonioso, orgânico, que o intrigante irmão gémeo; há pontos comuns aqui e ali (daí a minha honesta sensibilidade se focar nestes dois trabalhos, tão diferentes mas de alguma maneira tão iguais). Não há golpes de atrevimento neste disco, que nunca se oferece a pretensões superiores, mas que nem por isso deixa de ter os seus momentos desafiadores. Isto trata-se uma vez mais de contemplar boa produção. Lúcida. Competente. Directa: umas vezes ao coração, outras à pista de dança.

Mais um exemplo como alguns veteranos dos anos 90 se mantém criativamente frescos nesta segunda década do milénio, vistam a roupa que vestirem. Venha o próximo projecto de Fulton; cá estarei para o acolher depois de outra admissão de culpa pela desatenção.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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