DISCOS
Seapony
A Vision
· 17 Set 2015 · 10:36 ·
Seapony
A Vision
2015
Burrito Thirty


Sítios oficiais:
- Seapony
Seapony
A Vision
2015
Burrito Thirty


Sítios oficiais:
- Seapony
Canto do cisne.
Que passará pela cabeça de uma banda quando, sem que nada o fizesse prever, e escassos meses após ter lançado um disco novo, decide acabar sem oferecer quaisquer tipo de explicações excepto «a era dos Seapony chegou ao fim», agradecendo aos fãs por estes últimos anos e fazendo-o através de um simples post numa rede social? Perdoem-nos o egoísmo, mas nós, os fãs, não merecíamos tal coisa - ainda para mais quando A Vision, aquele que é agora o seu derradeiro álbum, estava ainda praticamente a começar a bater no goto. Perdoem-nos o egoísmo porque todos os amantes de música o são; não existindo apego emocional ao ponto da loucura, estes sons não passariam de simples mercadoria.

Os Seapony, nascidos em Seattle em 2010, nunca foram mercadoria, simples ou complexa. Foram uma banda amplamente conotada com a vaga surf pop que a dada altura da década passada surgiu em cena, infestando o indie com dezenas atrás de dezenas de projectos de quarto, cada um melhor (ou pior) do que o outro. Contudo, conseguiram, através de três maravilhosos registos - Go With Me (2011), Falling (2012) e este mesmo A Vision - escapar à monotonia do reverb, apostando em fazer, apenas e só, belíssimas canções com cheiro a pastilha elástica de framboesa, pequenos ditados de dois ou três minutos semelhantes a um fogo de artifício que brilha mas não explode. Eram a banda por eleição do fim do verão, e cessam actividade precisamente quando o verão de 2015 está prestes a ceder o seu lugar ao frio.

Mas antes que os pudéssemos determinar como um mero e fugaz amor estival, o trio desaparece de cena, despedaça-nos o coração e deixa-nos a questionar: e agora? Não que ao longo destes cinco anos tenham mudado, de alguma forma, as regras do jogo. Aliás, se há coisa que nunca fizeram foi trocar de pele; todos os três discos mantêm a mesma toada levezinha, agarrando-se à pop de praia como se não existissem outros caminhos. Os riffs e a batida metronómica resgatada a uma caixa de ritmos pouco se alteravam, e a voz de Jen Weidl, um sussurro que agora não ouviremos mais, entrava naquele campo da fofice dentro do qual é demasiado fácil apaixonarmo-nos. Não eram idiossincráticos, não eram futuristas nem saudosistas, não eram um hype prestes a ser formado; eram uma banda do caralho, e as saudades, quando ainda nem uma semana passou do anúncio do fim, já apertam.

A Vision terá agora, então, de ser visto por outro prisma. O próprio título do álbum deixava a entender, até porque o disco surgia três anos após o anterior, que estaríamos prestes a entrar numa nova era dos Seapony, durante a qual se afirmariam em pleno. Seria esta a sua visão da pop que há-de vir, o seu statement dentro de inúmeras propostas alternativas. A partir de agora, A Vision é "apenas" um marco histórico; uma ideologia que morreu antes de conseguir ser sequer implementada. É pena. Mais: é lastimável que estas onze canções, de "Saw The Light" ao tema-título, tenham agora de ficar encaixotadas num obituário, por oposição a uma maternidade. Enquanto o porquê? não nos é respondido de uma forma mais séria, teremos de nos contentar com a memória de uma banda que nos foi fiel - e nós a ela - nestes cinco anos em que acreditámos ser felizes. Sejamos fiéis, então, até ao fim, já que apesar de tudo paira naquele post um sorriso genuíno: nós é que vos agradecemos por tudo, Seapony.
Paulo CecĂ­lio
pauloandrececilio@gmail.com
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