Presta-se pouca atenção aos TV Rural. Infelizmente para o grupo, habitam naquela área cinzenta aborrecida à qual, doravante, passaremos a denominar de "Síndrome Cochaise": são demasiado pop/rock para os gostos mais ou menos alternativos de uma boa fatia da população que, nos anos mais recentes, tem feito com que a música Made in Portugal se eleve bem alto mas, por outro lado, são demasiado indies para passar na rádio ou figurar noutros meios de difusão mais abrangentes, que cheguem a milhares de pessoas e não apenas a uma mão cheia de centenas. É uma "doença" chata para a qual parece não existir uma cura - apenas tratamentos.

Da nossa parte, vamos fazer por isso dando as boas-vindas a Sujo, o mais recente trabalho dos TV Rural, três anos após os oeirenses nos terem despertado a atenção com A Balada Do Coiote. Entre esse e este tempo, houve um pequeno EP (Barba, 2014) e uma mudança de editora, mas aquilo que neles gostámos da primeira vez - canções gingonas, orelhudas, que se nos colem ao cérebro em repeat - continua por lá. Felizmente. O mote é dado com "Bailarina", faca e alguidar em jeito de canção e tons ska (o que nos faz pensar: ninguém ainda se lembrou do quarto revivalismo ska?), mas até final haverá outros bons momentos.

Por exemplo: o call and response de "Pedra É Pedra", o rock afiado de "Caga Nisso" (uma daquelas canções que se odeia à primeira escuta, até a apanharmos segunda vez e percebermos "hey, esta guitarra soa a Mão Morta!", e depois amamo-la incondicionalmente) e de "Círculo" e a pop outonal de "Ligeiro Ciúme". Viciante, tal como há três anos. Melhor, só sabendo que pode ser descarregado gratuitamente - no Bandcamp, pois claro. Coisas existem que, e ainda bem, não mudam.