DISCOS
The Orb
Moonbuilding 2703 AD
· 27 Jul 2015 · 19:47 ·
The Orb
Moonbuilding 2703 AD
2015
Kompakt


Sítios oficiais:
- The Orb
- Kompakt
The Orb
Moonbuilding 2703 AD
2015
Kompakt


Sítios oficiais:
- The Orb
- Kompakt
Regresso a casa.
Volvidas as colaborações “históricas” com David Gilmour e Lee "Scratch" Perry, completamente inconsequentes, diga-se – verdadeiros pet projects –, algo despertou em Dr. Alex Paterson, quanto mais não tenha sido a nostalgia. Tanto andou por aí neste últimos anos que o veterano doutor percebeu que havia necessidade de voltar a um lugar: voltar a um ponto onde os seus pés assentassem em matéria muito sólida, e a mente ganhasse perspectiva suficiente para incutir um azimute concreto.

E é disso que se trata em Moonbuilding 2703 AD. Sem espectacularidade, The Orb volta a ter os pés na Terra – sincretiza o longo trajecto; só precisamos de um bilhete –, e sonha – fantasia com o coração. E o que nos é apresentado são quatro longas dissertações que se projectam como imaginárias representações de um lugar além Ultraworld, tudo prospectado a partir do Hubble. Temos electrónica experimental em modo lúdico, temos Ambient para incendiar a imaginação, provocar a levitação. Para referência extra, temos reminiscências da beleza de Songs From The Beehive de Move D & Benjamin Brunn ‎em 2008 – e como o minimalismo do Techno da Basic Channel combina tão bem com o espírito de Eno e Namlock; e sim, estou a falar de dub-techno com ideias concretas, desafiantes, refrescantes. Há nesta hora de música um valor, e uma lição que Okie Dokie iniciou mas que foi incapaz de concretizar: usar o Techno para engrandecer o espírito – e assomar-lhe algo de memorável.

Em Moonbuilding 2703 AD não há esquisitice sem propósito. Há naturalidade nos traços projectados. A música escorre sem tropeções; é como se fosse uma mix-tape de todas as boas ideias (as dispersas nos últimos quinze anos) que só agora encontraram forma de fazer sentido. É um trabalho consciente, atento ao que está à sua volta, não pelas vaidades, ou os tiques da moda, mas pelo que o Presente representa – e aquilo que, eventualmente, tem para dar ao longo termo como uma memória de um tempo tão dado à fuga do Tempo, e à assimilação de ideias-matriz que prometam o Futuro. “Moonbuilding 2703 AD” (o quarto tema) volta a integrar o Hip-Hop (o que ele é hoje em dia: algo enviusado) na composição com a mesma naturalidade que “Super Nova At The End Of The Universe” se apossou do ritmo da rua para um acto de transcendência espiritual em 1991. Ambos os temas reflectem o seu tempo – e serão sempre transpirações de uma realidade quotidiana em vez de efemeridades.

Moonbuilding 2703 AD de alguma forma mágica está restrito pela gravidade da Terra. O corpo não é arrancado pela gravidade. Nada é projectado para o vazio, apesar de, amiúde, entrarmos na câmara de eco – ou o labirinto de espelhos – onde The Orb nos habituou a fuçar com prazer. Há ecos. E ecos. Em nada se trata de nostalgias redundantes – ou renegações. Acredito que Paterson recupera (ou resgata) o espírito – o sentido lúdico da viagem; quatro longas divagações orgânicas que a cada minuto têm algo pertinente a dizer com postura, personalidade.

Todo o alinhamento sabe ser actual sem regurgitar fórmulas. Alex Paterson nunca foi de copy–past, e muito menos resignou-se nesta década negra e grega a ser um velho do Restelo. E basta ouvir com atenção “God's Mirrorball” para perceber que The Orb, quando focado, e olhos arrebitados, ainda tem algo a ensinar aos putos de hoje sobre como esticar um tema além dos dez minutos e não matar ninguém de tédio no processo. Moonbuilding 2703 AD não é um disco genial, mas é um disco de mestrias.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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