DISCOS
Moritz von Oswald Trio
Sounding Lines
· 04 Set 2015 · 10:17 ·
Moritz von Oswald Trio
Sounding Lines
2015
Honest Jons Records


Sítios oficiais:
- Honest Jons Records
Moritz von Oswald Trio
Sounding Lines
2015
Honest Jons Records


Sítios oficiais:
- Honest Jons Records
Aristocracia dub-techno.
Muitos desconhecem a descendência aristocrática Moritz von Oswald – ele é trineto de Otto von Bismarck, unificador do retalhado mapa alemão no final do século XIX e o primeiro chanceler da Alemanha como país. É membro da nobre casa dos Bismarck, com possível origem em 1270. Certo: é uma nota de rodapé quando olhamos para Moritz von Oswald, o artista contemporâneo. Ele não se dá à política como político a ambicionar o estadismo. Mas tem a sua política, e de alguma maneira, é um estadista na realidade da música. É um ideólogo. Comporta-se, age segundo os seus princípios. E mesmo antes do fim dos seus dias – e que sejam muitos –, já tem um impressionante legado.

Quem anda atento sabe que Oswald se iniciou na produção de música electrónica no final dos anos 80 ao lado de Thomas Fehlmann (The Orb) e depois, na alvorada dos revolucionários anos 90 – RAVE! –, se juntou a Mark Ernestus para liderar a epopeia da Basic Channel. E enquanto os ingleses faziam uma interpretação maximalista do que jorrava de Detroit, Moritz von Oswald – com a memória de uma eclética escola alemã, com Kraftwerk à cabeça – assimilou o techno que vinha do outro lado do Atlântico e escravizou-o, despindo-o de excessos, resumindo-o a um esqueleto, que depois enfiou na ambígua câmara de ecos do Dub. Por esses dias o Krautrock dissipava-se, mas nem por isso a supremacia alemã estava disposta a abdicar de novos estados no que à música electrónica dizia respeito.

Idos os dias da Basic Channel, de Rhythm & Sound, e outra carrada de admiráveis projectos, foquemo-nos no presente, e nos presentes que Moritz von Oswald nos tem proporcionado com impressionante regularidade. Ele tem uma linguagem distinta – disso ninguém dúvida. E tem uma particular magia para se reinventar – nunca traindo a sua ideologia, os princípios, a sua forma de estar. Muitos produtores afundam-se no cubículo das incertezas. Oswald sobrevive. Vive. Não o faz sozinho, é certo. Mas ele lidera. E, no que interessa em particular, hoje, o “Trio” em “Moritz von Oswald” diz tudo.

Volvidos seis anos (arredondados) em que o maestro coordenou Max Loderbauer e Sasu Ripatti – ou Vladislav Delay – num andamento exploratório dub-techno em conluio com nebulosidades jazz, deparamo-nos agora com o elemento de subtracção/ adição – eventualmente comum a todas as grandes empresas: Vladislav Delay saiu; Tony Allen entrou. E o trio continua a sê-lo. Mas nenhuma mudança acaba inconsequente, por mais forte e determinada que seja a liderança e respectivo rumo.

Vertical Ascent (2009), Horizontal Structures (2011), Fetch (2012) são a linhagem directa do novo infante: Sounding Lines. Tony Allen toma agora conta do departamento do groove especulador. Mas em nada a destreza de manobras metálicas de Vladislav Delay se some. A herança está lá porque Moritz von Oswald não a rejeita. Assoma-se uma grande figura, e o seu toque particular – com uma mão para o hi-hat estratégico. Sai um talento e entra outro, não alterando sobremaneira a estrutura elementar do projecto. É claro que se notam diferenças. Tony Allen não é Vladislav Delay. Nem Vladislav Delay é Tony Allen. Ponto.

Sounding Lines é o passo subsequente de Moritz von Oswald – sempre, sempre a querer mais. Já havia orgânica rítmica antes. Desde o primeiro minuto, o projecto sempre imprimiu um toque de improviso na composição – nunca forçada, mas calculada. Tony Allen não altera o que Oswald tem para gerir "ideologicamente". No alinhamento mantêm-se o amor pelo dub, pelo techno minimal, pelo funk cibernético, pelo ambient atmosférico, o jazz a aspirar o toque de improv. Assoma-se agora o toque arquitectónico do mestre do afro-beat – sempre dado a tudo e mais alguma coisa, sempre ladeado pelo o melhor que há.

Fica, no entanto, a pairar um fantasma no alinhamento de Sounding Lines: um certo maneirismo, um certo depuramento. Antes havia uma boa dose de poluição sonora para ocultar com eficácia equações, técnicas, o savoir faire. Desta vez a proficiência exibe-se – em minudências, sim. Falta mais nevoeiro. A sonoridade cavernosa dos álbuns anteriores extraviou-se na logística. Mas não só. A Sounding Lines falta também um condimento que o condiciona em determinados momentos: um flow naturalista; um ambiente alien, frio. É um disco bem acima da mediocridade formulada do dub-techno, mas também é uma obra demasiado focada no rigor “orquestral”. Demasiado terrestre, diria.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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