DISCOS
Moullinex
Elsewhere
· 23 Jun 2015 · 15:57 ·
Moullinex
Elsewhere
2015
Discotexas


Sítios oficiais:
- Moullinex
- Discotexas
Moullinex
Elsewhere
2015
Discotexas


Sítios oficiais:
- Moullinex
- Discotexas
A alegria de viver de Luís Clara Gomes.
Moullinex nunca negou a sua paixão pelo Disco. Aliás fez o seu percurso genésico por aí. E, por competência própria, despertou a atenção de gente como Cut Copy, Röyksopp, WhoMadeWho ou Sebastien Tellier, que lhe proporcionaram a oportunidade de reconfigurá-los à sua imagem. De alguma maneira, Luís Clara Gomes alfinetou o seu talento no difícil quadro dos acontecimentos musicais à escala global. E nesta constatação nada há de paternalismo patriciado. É apenas mais uma evidência de que há em Portugal uma nova geração de criativos que gera valor que rivaliza com o que se vai fazendo além fronteiras. O velho slogan O que é nacional é bom! começa finalmente a fazer algum sentido, pelo menos no que à música diz respeito.

Luís Clara Gomes distingue-se com facilidade na cena musical nacional – e é, à semelhança dos Gala Drop, mais conhecido lá fora do que no rectângulo tuga. Trabalha com afinco; trabalha com gosto – ou por puro amor; na recente entrevista dada à Isilda Sanches na Rádio Oxigénio transpareceu uma honesta simpatia, uma genuína garra para produzir. A música de Moullinex ganha envergadura porque Luís Clara Gomes diverte-se a fazer o que faz. E apesar de se movimentar com à-vontade nos ditames idealistas do Nu Disco-Nu House-Nu Prog de sabor escandinavo, esforça-se para não se deixar aprisionar pelos seus maneirismos fantasiosos - e há alminhas que apreciam o esforço liberal. Há nuances quando tudo vai à lupa... mas já la vamos.

As entusiastas intervenções de Moullinex mostram facetas; e intenções. Flora floriu com naturalidade – não compilava temas a avulso, mas agrupava as ideias basilares dos EP's iniciais (na maioria a 320 kbps); era um relatório anímico Disco-House em longo formato –, era uma exposição em que a ansiedade se materializava em interessantes pinceladas (ambíguas). Luís infundiu personalidade na produção; e deu-se ao trabalho de descomplicar o mundo. Apesar de tudo, Flora passou despercebido à massa de consumo pop que aprecia linguagens de linear acesso.

E eis o segundo capítulo. Em que pé fica a aventura de Luís Clara Gomes? Antes de tudo dá passos em frente, nunca se perdendo numa qualquer obsessão na libertação de estigmas que trabalhos anteriores possam ter provocado por alguma incompletude. Elsewhere é uma evolução. E é uma honesta evolução – a alegria de viver de Luís faz com que haja uma contagiante abstracção da distópica realidade. Há Pop. Há Disco. Há House colorida. Há Sol, gente gira, e muita festança.

Luís pega na arma da canção e começa a disparar felicidade em todas as direcções. Mas há alguma inconsequência em determinados azimutes – e está na hora dos aspectos menos conseguidos deste segundo disco de originais de Moullinex; e eles empilham-se com facilidade – breves exemplos: Daft Punk, Moroder ou Pink Floyd estorvam pela obviedade; e a aproximação ao pantanoso rock-progressivo provoca um certo esgar de desconfiança – talvez pela ingénua abordagem. Elsewhere esforça-se em iluminar o ambiente à nossa volta – apesar da sombra kitsch que o tenta possuir quando olha para o lado: em determinados momentos sangram em excesso referências "populares" que abafam a identidade de Luís.

Elsewhere não mostra sobranceira para ser mais do que é: um disco de pop colorida. Luís canta estrada fora, feliz, contente, descomprometido. Sentimos o espírito jovial de Moullinex a agarrar-nos pelos colarinhos. E isso é bom. Contudo também sobressai uma ocasional tendência para nostalgias redundantes que enevoam partes do alinhamento. Talvez com uma maior depuração sonora esta linguagem pop se aproxime substancialmente do sublime. Potencial não falta.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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