DISCOS
Torres
Sprinter
· 19 Jun 2015 · 11:51 ·
Torres
Sprinter
2015
Partisan


Sítios oficiais:
- Torres
- Partisan
Torres
Sprinter
2015
Partisan


Sítios oficiais:
- Torres
- Partisan
Intensa Natureza.
Mackenzie Scott aproveitou bem os novos privilégios que a sua fantástica estreia em disco como Torres lhe concedeu. Sprinter apresenta uma lista de convidados que inclui nomes como Adrian Utley (Portishead), Rob Ellis (PJ Harvey), e Robin “Scanner” Rimbaud. Mas embora estes a ajudem a compor uma sonoridade mais encorpada, e com mais pormenores que captem a atenção, a autoria de Sprinter continua a pertencer claramente a Torres. Mulher de voz densa, poderosa e cativante, quer esteja praticamente a sussurrar, como no corolário de “A Proper Polish Welcome”, quer esteja a esticar vogais, como em “Strange Hellos” ou “Sprinter”. Aliás, quando o faz, o efeito é exactamente o contrário de um qualquer exercício exibicionista. Antes proporciona à dita voz uma expansão de volume que lhe aumenta a visceralidade.

Não quer isto dizer que o som de Sprinter não se distinga perfeitamente do de Torres. As contribuições dos convidados, em músicas como “Son, You Are No Island” ou “The Harshest Light”, proporcionam-lhe novas dimensões sonoras, as quais exacerbam o intimismo e o arranhão na garganta que sentimos quando as ouvimos. Intimismo que, diga-se, é expandido até um ponto de rebuçado na última música, “The Exchange”. Nela, Torres deixa praticamente escutar os sons não-musicais da sua boca, e os dedos a deslizarem nas cordas da guitarra. E, como noutras canções de Sprinter, faz alusões ao elemento aquático. Se nos lembrarmos do final de ”Torres”, em que ela falava sobre saltar ou não do alto de uma catarata, apercebemo-nos de que é algo recorrente. Assim como as referências religiosas, quer sejam a Jesus Cristo (“The Exchange”), Yahweh (“The Harshest Light”), ou Poseidon (“A Proper Polish Welcome”).

É possível que Mackenzie Scott ainda se sinta algo diminuta perante os elementos, e as divindades a que faz menção. Um pouco como um pássaro ou um peixe, que seguem ventos e mares. O que não significa que venha desprovida de qualquer sentido de humor. Seria difícil imaginar que aceitasse o padrão saltitante de sintetizadores que acompanha “Cowboy Guilt” de outra forma. O facto de a esta se seguir a belíssima e desolada “Ferris Wheel”, e de ela própria vir depois da enérgica faixa-título, é prova da versatilidade e variedade dos talentos de Torres, e de como o disco vem ampliar o que já vinha de grandes canções de ”Torres”, como “Chains” ou “Honey”.

Sprinter é precisamente isso. Nove excelentes canções. E Mackenzie Scott talvez seja, neste momento, e apesar da concorrência de boa gente como Angel Olsen, EMA, Natalie Prass ou Waxahatchee, a melhor cantautora que os últimos 5 anos trouxeram, uma vez que combina perfeitamente os pontos fortes das anteriores, num todo superior à soma das partes. Que o mundo lhe dê mais uma vez as boas-vindas, e aumente gradualmente a aclamação que lhe concede. Nada será mais justo.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
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