DISCOS
Waxahatchee
Ivy Tripp
· 15 Mai 2015 · 15:02 ·

Waxahatchee
Ivy Tripp
2015
Wichita / PIAS
Sítios oficiais:
- Waxahatchee
- Wichita
Ivy Tripp
2015
Wichita / PIAS
Sítios oficiais:
- Waxahatchee
- Wichita

Waxahatchee
Ivy Tripp
2015
Wichita / PIAS
Sítios oficiais:
- Waxahatchee
- Wichita
Ivy Tripp
2015
Wichita / PIAS
Sítios oficiais:
- Waxahatchee
- Wichita
Doces autópsias.
Desde há muitas décadas que os não-apreciadores de qualquer género musical que queiramos nomear recorrem ao mesmo tipo de desvalorização. A que diz que “Isso é muito fácil de fazer”. Quer falemos de pop mainstream, quer do noise mais agressivo. E desde sempre que a resposta é a mesma. “Fazê-lo bem não é qualquer um que faz”. O caso de Katie Crutchfield, e do seu projecto Waxahatachee (nome de um curso de água no estado do Alabama) é um caso em que, mais do que fazer “bem” – que tantas vezes significa seguir cartilhas à letra - é necessário que sobressaia uma sensação de especificidade. Algo que não faça de Ivy Tripp apenas mais um disco para armazenar no grupo do pop-rock alternativo, feito de melodias rugosas, e instrumentação não demasiado polida.
Se Katie, e os seus comparsas Kyle Gilbride e Keith Spencer, que também produziram todos juntos o disco, conseguem fazer do sucessor de Cerulean Salt um disco a que vale bem a pena prestar atenção, tal deve-se sobretudo a factores como a qualidade das letras, e a um apreciável balanço melódico entre o doce e o amargo. Quer esta última consideração dizer que Ivy Tripp não corre atrás de clichés de power chords. Antes evolui a passo seguro, deixando que a estrutura das melodias sobressaia, juntamente com a voz, familiar mas personalizada, de Katie. Voz que, pelo grão que contém, e pela impressão de ter ultrapassado a puberdade mas estar muito longe de chegar à maturidade chata, pertence a uma linhagem de cantoras que já vem desde Kristin Hersh, nos Throwing Muses dos 80s, ou Kim Deal no primeiro disco das Breeders. Apesar da guitarra mais ou menos reverberante ter preponderância, nalgumas músicas é mesmo o orgão ou os sintetizadores que se colocam na linha da frente, felizmente evitando aquele solipsismo chato que faz de tanto Indie-synth-pop uma refeição insossa.
Liricamente, Ivy Tripp é sobretudo um exame post-mortem a relações amorosas. Embora daquelas que, a julgar por algumas partes das ditas letras, nunca chegaram a ser mais do que uma procura fugaz de alguma ordem para a vida dos intervenientes. Ivy Tripp, segundo Katie, é precisamente uma expressão por ela inventada para definir alguma falta de rumo de um grande número de jovens adultos nos dias que correm. Lendo o booklet enquanto ouvimos as canções, vários trechos saltam à vista, a representar aquela sensação, misto de confusão e elação, após o fim de algo que nem sequer se sabe bem o que foi. Felizmente despido de parvoíces pseudo-profundas, que complicam o que não precisam. Daquelas que dizem “Devia ter percebido que eras isto e aquilo na altura”.
Nos anos 90, é bem provável que este fosse um disco bastas vezes mais “sujo”. Muito mais lo-fi. Nos 010s, sente-se mais o espaço deixado livre pelos instrumentos. Sobretudo pelo trio guitarra-baixo-bateria. E isso ajuda a que as melodias tenham o ambiente necessário para se insinuarem no nosso cérebro. Mesmo que refrões sejam coisa que não surge mais do que duas vezes numa música. Realmente, parece simples aquilo que Ivy Tripp proporciona. Quando vemos como o belo disco que é sobressai na “multidão”, percebemos logo que nao o é.
Nuno ProençaSe Katie, e os seus comparsas Kyle Gilbride e Keith Spencer, que também produziram todos juntos o disco, conseguem fazer do sucessor de Cerulean Salt um disco a que vale bem a pena prestar atenção, tal deve-se sobretudo a factores como a qualidade das letras, e a um apreciável balanço melódico entre o doce e o amargo. Quer esta última consideração dizer que Ivy Tripp não corre atrás de clichés de power chords. Antes evolui a passo seguro, deixando que a estrutura das melodias sobressaia, juntamente com a voz, familiar mas personalizada, de Katie. Voz que, pelo grão que contém, e pela impressão de ter ultrapassado a puberdade mas estar muito longe de chegar à maturidade chata, pertence a uma linhagem de cantoras que já vem desde Kristin Hersh, nos Throwing Muses dos 80s, ou Kim Deal no primeiro disco das Breeders. Apesar da guitarra mais ou menos reverberante ter preponderância, nalgumas músicas é mesmo o orgão ou os sintetizadores que se colocam na linha da frente, felizmente evitando aquele solipsismo chato que faz de tanto Indie-synth-pop uma refeição insossa.
Liricamente, Ivy Tripp é sobretudo um exame post-mortem a relações amorosas. Embora daquelas que, a julgar por algumas partes das ditas letras, nunca chegaram a ser mais do que uma procura fugaz de alguma ordem para a vida dos intervenientes. Ivy Tripp, segundo Katie, é precisamente uma expressão por ela inventada para definir alguma falta de rumo de um grande número de jovens adultos nos dias que correm. Lendo o booklet enquanto ouvimos as canções, vários trechos saltam à vista, a representar aquela sensação, misto de confusão e elação, após o fim de algo que nem sequer se sabe bem o que foi. Felizmente despido de parvoíces pseudo-profundas, que complicam o que não precisam. Daquelas que dizem “Devia ter percebido que eras isto e aquilo na altura”.
Nos anos 90, é bem provável que este fosse um disco bastas vezes mais “sujo”. Muito mais lo-fi. Nos 010s, sente-se mais o espaço deixado livre pelos instrumentos. Sobretudo pelo trio guitarra-baixo-bateria. E isso ajuda a que as melodias tenham o ambiente necessário para se insinuarem no nosso cérebro. Mesmo que refrões sejam coisa que não surge mais do que duas vezes numa música. Realmente, parece simples aquilo que Ivy Tripp proporciona. Quando vemos como o belo disco que é sobressai na “multidão”, percebemos logo que nao o é.
nunoproenca@gmail.com
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