DISCOS
Godspeed You! Black Emperor
Asunder, Sweet And Other Distress
· 28 Abr 2015 · 20:02 ·
Godspeed You! Black Emperor
Asunder, Sweet And Other Distress
2015
Constellation Records


Sítios oficiais:
- Constellation Records
Godspeed You! Black Emperor
Asunder, Sweet And Other Distress
2015
Constellation Records


Sítios oficiais:
- Constellation Records
Ondulação picada.
Acostumámo-nos mal com os Godspeed You! Black Emperor. Acostumámo-nos a que nos permitissem molhar o pés, aclimatizarmo-nos, desfrutar momentos de bandeira verde, embora soubéssemos, e ansiássemos pelo que aí vinha. Desta vez, os canadianos decidiram que a bandeira seria vermelha desde o princípio. E nesse caso, como reagir? Serão os preliminares tão indispensáveis assim? Afinal, estamos apenas a chegar mais cedo onde sempre quisemos chegar desde que F#A#∞ transformou irremediavelmente a nossa vida melómana. Quem acreditar que, como dizem alguns, “metade do divertimento é lá chegar”, terá que fazer um reajuste mental bem rápido. Felizmente, a banda em questão são os GYBE. E depressa estamos de tal forma embrenhados na cerimónia que já pouco nos importa de onde, e como, partimos.

Asunder, Sweet And Other Distress é, tal como o anterior Allelujah! Don’t Bend! Ascend!, composto de duas longas peças furiosas “à GYBE”, e duas mais ambientais. Estamos porventura, tal como dizem alguns do jazz, a jogar naquele terreno em que o espaço entre notas – neste caso, músicas – é tão ou mais importante que a nota em si. Mas, quer “Lambs’ Breath”, quer “Asunder, Sweet”, não foram feitas para serem ignoradas. Já depois de “Peasantry or ‘Light Inside Of Light’” nos ter “engolido”, serão como que a representação da falsa calma da superfície. Deixamos que percorram o seu tempo, que procurem sinais de vida. Não são os “crescendos” habituais. Permitem-nos a contemplação prazerosa (que não prazenteira). E, quando o mostrador do aparelho audio que usamos, nos indica que passámos a “Piss Crowns Are Trebled”, tudo recomeça a fervilhar.

Na apoteose de “Piss Crowns…”, tudo volta a abrir-se. Somos cuspidos de volta. Há alguma elação. Alguma euforia. Já em “Peasantry…” o tínhamos vivido. Lembrámo-nos dos balcanismos/médio-orientalismos de “Mladic”. Até, veja-se lá, conseguimos pensar num cântico de festa de aldeia. A primeira vez na vida em que os GYBE partilharam verdadeiramente oxigénio com os Arcade Fire. A guitarra em “Piss Crowns…” contém em si a alegria, sobretudo quando entra na segunda metade, de milhares de cabeças em headbanging, com a bateria a cooperar, num subir de agressividade. Já não importa mesmo nada como tudo isto começou. Já só interessa habitarmos o Planeta Godspeed. É o milagre da evolução que nenhuma escola quer dissecar.

Resumindo uma ideia que perpassou todo o texto acima, Asunder, Sweet And Other Distress é uma queda em mar agitado, a pós-submersão, e o regresso à superfície em nova tempestade. Mas…como é que acabámos? Sobrevivemos? Na vida real, claro que sim. Na música? Deixemos os GYBE serem Schrodinger, e nós o gato. Eles merecem-no pelo trabalho que têm tido a tornar o nosso mundo mais especial há quase 20 anos.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
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