DISCOS
Sabre
Morning Worship EP
· 14 Abr 2015 · 15:11 ·
Sabre
Morning Worship EP
2015
Clone Royal Oak


Sítios oficiais:
- Sabre
Sabre
Morning Worship EP
2015
Clone Royal Oak


Sítios oficiais:
- Sabre
Honestidade.
Há discos que nos dão medo de escrever sobre eles. Seja porque o que quer que digamos não conseguirá fazer jus à qualidade (ou falta dela) da música, seja por desconhecimento de causa do género e da cultura em que determinada peça se insere, seja pela combinação destes factores e - para ajudar à festa - pelo facto de até conhecermos pessoalmente o artista em questão e, assim, não querermos nem enveredar pelo lambe-botismo nem enxovalhar alguém publicamente só para fazer transparecer algum tipo de imparcialidade.

Convenhamos que, quando se escreve sobre música, nunca se é imparcial: o que fica na crítica é a opinião muito pessoal sobre um determinado disco ou canção, que pode ou não ser do nosso agrado. A objectividade não existe quando se fala de uma coisa que se ama ou se odeia porque "amar" e "odiar" são emoções, naturalmente, pessoais. Já no Almost Famous um Lester Bangs enquanto personagem aconselhava o jovem aspirante a crítico a ser honesto e impiedoso, sendo que a "honestidade" nunca poderá ser uma qualidade objectiva...

...Mas, seja como for, não estamos aqui para dissertar sobre o que é jornalismo e crítica musical, e sim para falar sobre o EP dos Sabre (esta espécie de trocadilho foi propositada) de uma forma que será brutalmente imparcial porque, primeiro, um ex-escriba do Bodyspace forma metade do duo e, segundo, já os acompanhamos desde Bali / Ging e Nightdrive To Bolland e até mesmo antes disso - se algum dia os Sabre se tornarem gigantes, no sentido publicitário da palavra, alguém saberá que eles já fizeram remisturas maravilhosas dos Talking Heads e dos Nightcrawlers?

Morning Worship, 27 minutos a olhar directamente para o sol como muito bem escreveu o João (outra coisa que nos dá um medo terrível: quando alguém que, vá, sabe realmente escrever sobre música bota um texto primeiro do que nós e pronto, lá se vai a pseudo-confiança toda com o caralho), quatro temas de uma electrónica cósmica - será justo chamar a isto outsider house, agora que este parece ser um termo a criar hype? Por outro lado, quem é que quer saber? - com o objectivo máximo de fazer dançar ou, quem sabe, proporcionar, muito simplesmente, a banda-sonora daquela ganza de fim de tarde quando o sol se põe e a mente flutua até parar numa cadeira de praia e numa qualquer bebida alcoólica colorida. E se digo "cósmica" é porque ainda acho a "Cosmic Carlos" uma malha genial e porque os sintetizadores da "Cascavel Breeze" me relembram precisamente o espaço, visto da tal cadeira de praia junto ao Café Del Mar. E se digo "relembram" é porque a memória parece aqui estar bem presente, já que ninguém me vai tirar da cabeça (e se calhar até é verdade, e eu espero estar certo, para ficar ligeiramente bem comigo e com o meu corpo) que a "Streets Of Love/Blaze", o melhor tema aqui presente, é claramente inspirado pelo "Streets Of Rage" e pela banda-sonora maravilhosa desse clássico da Mega Drive que passei horas e horas a calcorrear na infância ao lado dos Golden Axes, Shinobis e, claro, Sonics. Onde é que eu ia?... Ah, sim: nos Sabre e na crítica. Querem honestidade? Este EP é melhor que vocês todos.
Paulo CecĂ­lio
pauloandrececilio@gmail.com
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