DISCOS
Rosie Thomas
Only With Laughter Can You Win
· 22 Fev 2004 · 08:00 ·
Rosie Thomas
Only With Laughter Can You Win
2003
Sub Pop
Sítios oficiais:
- Rosie Thomas
- Sub Pop
Only With Laughter Can You Win
2003
Sub Pop
Sítios oficiais:
- Rosie Thomas
- Sub Pop
Rosie Thomas
Only With Laughter Can You Win
2003
Sub Pop
Sítios oficiais:
- Rosie Thomas
- Sub Pop
Only With Laughter Can You Win
2003
Sub Pop
Sítios oficiais:
- Rosie Thomas
- Sub Pop
Depois do aclamado When We Were Small, surge Only With Laughter Can You Win, o segundo registo da menina que tem voz doce e terna de criança. A própria capa parece mostrar aquilo que o disco tem para apresentar; de facto, este registo é como uma confissão para um diário escrita num qualquer quarto com as paredes forradas a papel de cor-de-rosa numa tarde solarenga de Verão. Espalhados pela cómoda, postais dos amigos e fotografias das pessoas mais queridas. Guardadas numa caixa velha coberta de pó, as memórias do Inverno ou de há dez anos atrás, prontas a ser desenterradas.
E é, pois, da aproximação ao passado que fala este disco. Rosie fala da sua família, dos seus amigos, do amor e de si própria, e tudo isto com um tom confessional invejável e sem cair nunca numa toada lamechas. É a simplicidade deste disco que faz com que seja tão fácil, ao comum ouvinte, identificar-se com o que aqui é dito.
Em “Let Myself Fall”, canção que abre o disco, e em jeito de sopro, fala-se de um caminho percorrido que, dê por onde der, não permite regresso. Depois da pequena introdução, começam as canções autobiográficas e de tom eminentemente intimista. “I Play Music” conta a história da cantora desde a procura de um rumo até encontrar a música que, e segundo a própria, “a faz perder-se a si própria” pois “Deus sabe que é aquilo que mais gosta de fazer”. É a visão feita a cores de uma menina que parece caminhar num arco-íris, numa ilusão imensa. A própria instrumentação do disco parece contribuir para esse mesmo mundo de fantasia: uma guitarra acústica cruza-se, na maior parte das faixas, com um xilofone ou com um piano (ou por vezes com ambos) criando melodias vivas que facilmente se confundem com melancolia. É de uma alegria ténue e frágil, este disco que, em relação ao primeiro álbum, perde um pouco da raiva e insubmissão de canções como “I Run”. O desejo de fuga e evasão e a procura de um espaço onde possa respirar encontra em “Sell All My Things” o seu cenário perfeito: palavras como "So, sell all my things, I’m not coming home, there’s nothing to keep me there" espelham a vontade de mudança. “Crazy” é um tema que tem por base um piano e uma guitarra acústica e, mais do que nenhuma, a notória influência de Joni Mitchell. “One More Day” é um tema inadiável, urgente e que sugere mudança, alteração de sentido. O piano delicado, o suave dedilhar da guitarra, o violino e o violoncelo envolvem-nos numa espécie de sonho acordado. Um sonho que tem tanto de aparente como de real. E da mesma maneira que as canções da autora de “Court and Spark” remetiam para essa vontade de alterar o estado das coisas, a situação presente, também aqui aparece a atitude de inconformidade. Inconformidade em vez de desacordo. Inconformismo no lugar de revolta, como se existisse ainda uma réstia de esperança. Todo este sentimento de alegria contida desemboca em “Me and You”, que apesar das letras positivas, e à semelhança de “Farewell” do disco de estreia, é percorrida por um sentimento de consternação. “Gradually” fala-nos da esperança de "ver melhor", "de envelhecer" e de saber conceder o perdão, a absolvição. Fala do “fazer de conta”, do acreditar naquilo que parece real, naquilo que nos é apresentado. Rosie Thomas espera que a sapiência e a graciosidade aumentem gradualmente com a idade, com o passar do tempo. Com “Dialogue”, o disco acaba da mesma forma como começou: a voz soprada de Rosie Thomas em conjunto com as vozes doces e angelicais de um coro criam uma ambiência quase mística, incorpórea, e reflecte toda a paz de espirito que o disco sugere.
Este é um daqueles registos que possuem a incontornável capacidade de se agarrar ao tempo, fazê-lo parar e arrastar consigo pessoas, situações, sentimentos. É um disco que nos remete ao conforto, à solidão com alento, à irremediável nostalgia. No fim, a janela do quarto fecha-se, mas ficamos, por sorte, do lado de fora, com as recordações de uma casa cor-de-rosa.
André GomesE é, pois, da aproximação ao passado que fala este disco. Rosie fala da sua família, dos seus amigos, do amor e de si própria, e tudo isto com um tom confessional invejável e sem cair nunca numa toada lamechas. É a simplicidade deste disco que faz com que seja tão fácil, ao comum ouvinte, identificar-se com o que aqui é dito.
Em “Let Myself Fall”, canção que abre o disco, e em jeito de sopro, fala-se de um caminho percorrido que, dê por onde der, não permite regresso. Depois da pequena introdução, começam as canções autobiográficas e de tom eminentemente intimista. “I Play Music” conta a história da cantora desde a procura de um rumo até encontrar a música que, e segundo a própria, “a faz perder-se a si própria” pois “Deus sabe que é aquilo que mais gosta de fazer”. É a visão feita a cores de uma menina que parece caminhar num arco-íris, numa ilusão imensa. A própria instrumentação do disco parece contribuir para esse mesmo mundo de fantasia: uma guitarra acústica cruza-se, na maior parte das faixas, com um xilofone ou com um piano (ou por vezes com ambos) criando melodias vivas que facilmente se confundem com melancolia. É de uma alegria ténue e frágil, este disco que, em relação ao primeiro álbum, perde um pouco da raiva e insubmissão de canções como “I Run”. O desejo de fuga e evasão e a procura de um espaço onde possa respirar encontra em “Sell All My Things” o seu cenário perfeito: palavras como "So, sell all my things, I’m not coming home, there’s nothing to keep me there" espelham a vontade de mudança. “Crazy” é um tema que tem por base um piano e uma guitarra acústica e, mais do que nenhuma, a notória influência de Joni Mitchell. “One More Day” é um tema inadiável, urgente e que sugere mudança, alteração de sentido. O piano delicado, o suave dedilhar da guitarra, o violino e o violoncelo envolvem-nos numa espécie de sonho acordado. Um sonho que tem tanto de aparente como de real. E da mesma maneira que as canções da autora de “Court and Spark” remetiam para essa vontade de alterar o estado das coisas, a situação presente, também aqui aparece a atitude de inconformidade. Inconformidade em vez de desacordo. Inconformismo no lugar de revolta, como se existisse ainda uma réstia de esperança. Todo este sentimento de alegria contida desemboca em “Me and You”, que apesar das letras positivas, e à semelhança de “Farewell” do disco de estreia, é percorrida por um sentimento de consternação. “Gradually” fala-nos da esperança de "ver melhor", "de envelhecer" e de saber conceder o perdão, a absolvição. Fala do “fazer de conta”, do acreditar naquilo que parece real, naquilo que nos é apresentado. Rosie Thomas espera que a sapiência e a graciosidade aumentem gradualmente com a idade, com o passar do tempo. Com “Dialogue”, o disco acaba da mesma forma como começou: a voz soprada de Rosie Thomas em conjunto com as vozes doces e angelicais de um coro criam uma ambiência quase mística, incorpórea, e reflecte toda a paz de espirito que o disco sugere.
Este é um daqueles registos que possuem a incontornável capacidade de se agarrar ao tempo, fazê-lo parar e arrastar consigo pessoas, situações, sentimentos. É um disco que nos remete ao conforto, à solidão com alento, à irremediável nostalgia. No fim, a janela do quarto fecha-se, mas ficamos, por sorte, do lado de fora, com as recordações de uma casa cor-de-rosa.
andregomes@bodyspace.net
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