DISCOS
Iceage
Plowing Into The Field Of Love
· 04 Dez 2014 · 09:44 ·

Iceage
Plowing Into The Field Of Love
2014
Escho
Sítios oficiais:
- Escho
Plowing Into The Field Of Love
2014
Escho
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- Escho

Iceage
Plowing Into The Field Of Love
2014
Escho
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Plowing Into The Field Of Love
2014
Escho
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Cabaré punk.
Muita coisa pode mudar no espaço de três anos. Olhe-se para os Iceage: aquilo que começou como uma banda alicerçada num hardcore a saber a sangue novo tornou-se ponto de passagem obrigatório para quem queira perceber o que é que é isto do rock n' roll na segunda década do século XXI, deixando para trás uma adolescência marcada a três acordes e manchada pelas acusações de que os seus membros seriam apologistas do neo-nazismo (ainda circulam, contudo, vídeos horripilantes de concertos seus em que membros da audiência erguem orgulhosamente o braço em jeito de saudação).
Não é fácil sobreviver a este tipo de rotulagem - que o diga, por exemplo, Douglas Pearce, que ainda é impedido de actuar em certos locais devido à imagética nacional-socialista dos Death In June. No entanto, com Plowing Into The Field Of Love, os Iceage conseguem, q.b., que nos foquemos no essencial: a música que constroem. Porque é um disco com uma maturidade que se calhar não se esperaria de uma banda que surgiu, ainda em fase púbere, do punk. E assim como na literatura se exultam as virtudes de Louis-Ferdinand Céline e Knut Hamsun, tentando esquecer as suas abjectas opções políticas, tentemos esquecer por um momento que as filiações dos Iceage são no mínimo duvidosas. Este terceiro disco merece-o; o resto, deixamo-lo para outras discussões infinitamente mais importantes.
E se falámos nos Death In June, será também porque encontramos aqui e ali traços do projecto de Pearce, também ele oriundo do punk (e até de movimentos como o Rock Against Racism) e que posteriormente adoptou uma linguagem distinta, à qual coloquialmente chamamos neofolk. Não para dizer que Plowing... é um disco dentro desse género, mas que tem os seus momentos paralelos: o negrume das letras, a aura cabaré que encontramos em temas como o fabuloso "Against The Moon" (uma das canções do ano, a voz de Elias Rønnenfelt a desfalecer de miséria durante o refrão e o piano a marcar o compasso), a marcha militar de "Let It Vanish" ou os trompetes em "Forever".
Plowing Into The Field Of Love é o álbum que os dinamarqueses fizeram, ou que sentiram que tinham que fazer, de modo a mostrar que as discussões sobre o merchandising de facas e o fascínio por regimes totalitários devem permanecer no passado. É difícil contra-argumentar quando estamos perante um terceiro disco tão bem conseguido, onde a raiva é substituída por um desdém e por uma depressão muito mais fortes que qualquer grito. Ouça-se igualmente "Glassy Eyed, Dormant And Veiled", entre a aceleração e o medo, canção sobre pais abusivos, onde a voz quase teatral de Elias encontra uma expressão que não encontrava em New Brigade e You're Nothing. Isto sem negar alguma raiz de diversão teen: o rockabilly de "The Lord's Favorite", por exemplo. Os Iceage estão crescidos. Só poderá ser bom para eles, e reconfortante para nós.
Paulo CecílioNão é fácil sobreviver a este tipo de rotulagem - que o diga, por exemplo, Douglas Pearce, que ainda é impedido de actuar em certos locais devido à imagética nacional-socialista dos Death In June. No entanto, com Plowing Into The Field Of Love, os Iceage conseguem, q.b., que nos foquemos no essencial: a música que constroem. Porque é um disco com uma maturidade que se calhar não se esperaria de uma banda que surgiu, ainda em fase púbere, do punk. E assim como na literatura se exultam as virtudes de Louis-Ferdinand Céline e Knut Hamsun, tentando esquecer as suas abjectas opções políticas, tentemos esquecer por um momento que as filiações dos Iceage são no mínimo duvidosas. Este terceiro disco merece-o; o resto, deixamo-lo para outras discussões infinitamente mais importantes.
E se falámos nos Death In June, será também porque encontramos aqui e ali traços do projecto de Pearce, também ele oriundo do punk (e até de movimentos como o Rock Against Racism) e que posteriormente adoptou uma linguagem distinta, à qual coloquialmente chamamos neofolk. Não para dizer que Plowing... é um disco dentro desse género, mas que tem os seus momentos paralelos: o negrume das letras, a aura cabaré que encontramos em temas como o fabuloso "Against The Moon" (uma das canções do ano, a voz de Elias Rønnenfelt a desfalecer de miséria durante o refrão e o piano a marcar o compasso), a marcha militar de "Let It Vanish" ou os trompetes em "Forever".
Plowing Into The Field Of Love é o álbum que os dinamarqueses fizeram, ou que sentiram que tinham que fazer, de modo a mostrar que as discussões sobre o merchandising de facas e o fascínio por regimes totalitários devem permanecer no passado. É difícil contra-argumentar quando estamos perante um terceiro disco tão bem conseguido, onde a raiva é substituída por um desdém e por uma depressão muito mais fortes que qualquer grito. Ouça-se igualmente "Glassy Eyed, Dormant And Veiled", entre a aceleração e o medo, canção sobre pais abusivos, onde a voz quase teatral de Elias encontra uma expressão que não encontrava em New Brigade e You're Nothing. Isto sem negar alguma raiz de diversão teen: o rockabilly de "The Lord's Favorite", por exemplo. Os Iceage estão crescidos. Só poderá ser bom para eles, e reconfortante para nós.
pauloandrececilio@gmail.com
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