DISCOS
The Soundcarriers
Entropicalia
· 23 Out 2014 · 16:22 ·
The Soundcarriers
Entropicalia
2014
Ghost Box


Sítios oficiais:
- The Soundcarriers
- Ghost Box
The Soundcarriers
Entropicalia
2014
Ghost Box


Sítios oficiais:
- The Soundcarriers
- Ghost Box
Caleidoscópio para um verão fora de tempo.
Bastam duas audições, melhor, duas músicas para nos agarrarmos a Entropicalia como nos agarramos ao último raio de sol de cada dia, na vã esperança que ele não se vá. Mas a vida continua e, já de sol posto, bastam cinco minutos até sermos levados pelo arrastão “The Outsider”: parte kraut, parte pop, total ode ao sol que é a voz de Leonore Wheatley - um dos quatro cúmplices que compõem os Soundcarriers - acompanhada por uma secção rítmica sempre pulsante e certinha, num flirt constante com o krautrock. E que dizer de “Signal Blue”, uma malha tão inglesa como o spam enlatado e onde Jesse Chandler (emprestado pelos Midlake, aqui na flauta e no Hammond) faz mais em quatro minutos do que a sua banda fez nos últimos oito anos?

Mas há mais: “Boiling Point” é uma construção de jogos de vozes quase sempre delirantes, baterias à Can e guitarras banhadas num àcido que não mais descola até ao final do disco. A gentil “So Beguiled” dá-nos a mão logo a seguir, para nos encantar com a voz solarenga de Leonore – e nos fazer desejar secretamente que Deus seja efectivamente um DJ e faça desta malha uma espécie de despertador celestial para o universo. E é mesmo preciso falar de “This is Normal”, um pequeno delírio colectivo narrado por Elijah Wood, que deixa bem à vista a cumplicidade e a criativdade rítmica que marca todo o Entropicalia e se revela uma inesgotável fonte de adornos e arranjos caleidoscópicos.

Depois de três discos que oscilaram entre o bom e o óbvio, os Soundcarriers parecem finalmente ter-se encontrado. E se é verdade que Entropicalia continua a exibir orgulhosamente as influências que se lhes apontam desde o primeiro dia – com os Stereolab e os Broadcast à cabeça –,não é menos verdade que as cartilhas do krautrock e da cena de Canterbury (que já antes seguiam) foram inteligentemente depuradas e refinadas – e isso só nos faz bem.
António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com
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