Todos sabemos que, para um melómano, não há nada pior que o sentimento de expectativa defraudada. E sim, é certo que todos temos “aqueles” álbuns inenarravelmente horríveis, mas nem esses nos conseguem ofender tanto quanto aqueles que, não sendo abjectos, nos trazem à boca aquela amargura típica da desilusão. Encyclopedia, terceiro LP dos norte-americanos The Drums é, infelizmente, um exemplo perfeito disto, e se de facto alguns nunca esperaram muito de um grupo que sempre se limitou a espirrar uns pozinhos “surf-escos” e uns sintetizadores saltitões sobre uma imitação de cabaré dos The Smiths, a verdade é que nós, fãs, não estávamos prontos para tamanha hecatombe.

E não é só o arrastar da duração das canções para além de qualquer nexo ou prazo de validade ou a manifesta falta de inspiração das mesmas que estragam este disco. São também os histriónicos gemidos de Jonathan Pierce, os teclados apalhaçados, as letras sem nexo e a sonoridade encharcada em reverb, tudo coisas que, nos dois registos anteriores, tornavam a música dos The Drums empolgante mas que neste Encyclopedia surgem desgastadas, sem brilho nem jeito, numa espécie de paródia da banda feita única e exclusivamente para nos irritar.

Mas o pior é que, na maioria do tempo, nem isso é capaz de fazer; à excepção dos momentos verdadeiramente tenebrosos (oiça-se “Magic Mountain” ou “Bell Laboratories”), que têm contraponto nas três canções que se aproveitam (a ver, “Let Me”, “Face of God” e “There is Nothing Left”), nada neste álbum é capaz de despertar alguma emoção digna desse nome, tamanha a esterilidade que para aqui anda. Nem felicidade nem tristeza, nem raiva nem compaixão, nem agitação nem acalmia, apenas o desprezo de quem espera que a música de fundo levemente reminiscente a The Drums pare de soar na estereofonia. É certo que 2014 teve e terá centenas de discos infinitamente piores, mas poucos serão tão desprezíveis e odiosos quanto este Encyclopedia.