Conhecemo-la quando, numa tarde de sol minhota, subiu ao palco da piscina do Milhões de Festa para juntamente com Óscar Silva (Jibóia) interpretar uma das melhores versões que alguma vez ouvimos de "Tuareg", de Gal Costa. Apaixonámo-nos desde logo por aquela voz incrível, à altura desconhecida, e hoje em dia ponto de partida para quem quiser saber as cantoras que temos à margem dos espectáculos televisivos que semana após semana constroem barbaridades insondáveis. Se Ana Miró tivesse nascido não no Alentejo mas em Londres seria hoje uma estrela de renome internacional. O "azar" dela é a nossa sorte.

Que ninguém nos leve Sequin, portanto. O disco a solo que aguardávamos desde 2012 chegou finalmente, para gáudio de quem achava que esta menina precisava urgentemente de um espaço só seu (ainda que as experiências Jibóia e Heats sejam igualmente muito confiáveis). Produzido por Moullinex, Penelope (nome casto, claro) é um regresso à pop dos anos oitenta, teclados e beats construindo canções de trago fácil e digestão ainda melhor. Revivalismo? Nada disso, apenas e só um belo disco.

De entre tantos bombons a escolher alguns sobressaem, como é evidente: "Meth Monster", logo a abrir, e da qual não conseguimos deixar de retirar uma certa vibe Kate Bush, antes de se entrar na sensualidade triste de "Heart To Feed" e na mui dançável e recomendável "Flamingo". Três canções que viciam um disco inteiro, havendo ainda "Mercurio" e, claro, "Beijing", primeira demo que encontra também o seu espaço neste álbum de estreia, fechando-o com chave (ou sequim?) d'ouro. O disco perfeito para as noites deste verão.