DISCOS
Boozoo Bajou
4
· 23 Jun 2014 · 12:16 ·

Boozoo Bajou
4
2014
Apollo
Sítios oficiais:
- Boozoo Bajou
- Apollo
4
2014
Apollo
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- Boozoo Bajou
- Apollo

Boozoo Bajou
4
2014
Apollo
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4
2014
Apollo
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Não há nada que o tempo não resolva.
Cinco anos de pausa serviram para alguma coisa. Se Grains se resumiu a um amorfo grupo de canções e instrumentais, que de ponto de vista de proficiência técnica eram irrepreensíveis – a produção é o forte desta dupla de Nuremberga –, no escalão da criatividade, o disco de 2009 deixava na língua um forte travo a azedo por não se conseguir libertar das correntes do chamado lounge-music viciado no dub.
E cinco anos de pausa serviram realmente para alguma coisa: reflexão! E 4 é essencialmente uma interessante consequência da reflexão (conceptual), propondo no fim um genuíno produto artístico inspirado; acima de tudo pertinente. O novo disco da dupla alemã regressa de espírito às origens (o instrumentalismo) e delas parte para um novo quadrante estético. No fundo abandonaram a zona de conforto em que se empantanaram em Dust My Broom, e que se agudizou em Grains – ambos reflexos imediatos de Satta, só que com canções para temperar –, fugindo com a arte para latitudes mais frias e abstractas, encontrando, por exemplo, no ambientalismo clássico (Brian Eno vem à cabeça no imediato), uma nova plataforma de escrita criativa.
O EP Jan Mayen já anunciava a mudança, atirando ao vento um novo aroma sonoro apostado no minimalismo abstracto. A edição pela ressurgida Apollo – uma espécie de subsidiária da mítica R&S Records – sugeria ainda mais: livre exploração nos meandros do experimentalismo electrónico. 4 confirma as suspeições do EP editado há um ano.
E se há a ressalvar um elemento, que trás uma lufada de ar fresco a tudo o que Florian Seyberth e Paul Heider agora produzem, é a manipulação cristalina dos metais de Max Loderbauer, que ajuda a tornar a paisagem rude sem que ela perca a beleza. Causa estranheza à primeira mas no fim percebe-se o quão essencial é a discreta colaboração na erecção da nova personalidade sonora.
4 não se volta para o dub quente de Kingston, onde, num cruzamento singular com o blues do Mississípi, e reminiscências soul e hip-hop – lento e descompassado –, o passado sonoro sacava direcções. Antes explora a herança dub tecno que tão bem caracteriza a sonoridade electrónica alemã desde os meados dos anos 90 – a Basic Channel, e tudo à volta, também vem de imediato à cabeça. O novo som dos Boozoo Bajou é frio sem que se perca a temperatura exótica do passado (sendo "Hirta" o expoente máximo dessa arquitectação). É distante sem que se perca a envolvência. É irreverente sem que perca a ponderação. A nova atitude passa essencialmente por remover a irrelevância pop, despir a música e deixá-la nua de preconceitos, ou maneirismos saudosistas; e que bem se respira a novidade quando o empastelamento vocal desaparece de cena.
Cinco anos de pausa serviram para encontrar nova inspiração, novo propósito, nova atitude. Os Boozoo Bajou reinventam-se corajosamente sem perderem a identidade no processo, algo raro nos dias que correm; e talvez haja uma elegante lição que tipos como os Thivery Corporation poderiam retirar de 4: parar, meditar e ter iniciativa de sair da caixa que inventaram para se aprisionar. 4 não é genial, mas é sem dúvida iluminado de um novo espírito.
Rafael SantosE cinco anos de pausa serviram realmente para alguma coisa: reflexão! E 4 é essencialmente uma interessante consequência da reflexão (conceptual), propondo no fim um genuíno produto artístico inspirado; acima de tudo pertinente. O novo disco da dupla alemã regressa de espírito às origens (o instrumentalismo) e delas parte para um novo quadrante estético. No fundo abandonaram a zona de conforto em que se empantanaram em Dust My Broom, e que se agudizou em Grains – ambos reflexos imediatos de Satta, só que com canções para temperar –, fugindo com a arte para latitudes mais frias e abstractas, encontrando, por exemplo, no ambientalismo clássico (Brian Eno vem à cabeça no imediato), uma nova plataforma de escrita criativa.
O EP Jan Mayen já anunciava a mudança, atirando ao vento um novo aroma sonoro apostado no minimalismo abstracto. A edição pela ressurgida Apollo – uma espécie de subsidiária da mítica R&S Records – sugeria ainda mais: livre exploração nos meandros do experimentalismo electrónico. 4 confirma as suspeições do EP editado há um ano.
E se há a ressalvar um elemento, que trás uma lufada de ar fresco a tudo o que Florian Seyberth e Paul Heider agora produzem, é a manipulação cristalina dos metais de Max Loderbauer, que ajuda a tornar a paisagem rude sem que ela perca a beleza. Causa estranheza à primeira mas no fim percebe-se o quão essencial é a discreta colaboração na erecção da nova personalidade sonora.
4 não se volta para o dub quente de Kingston, onde, num cruzamento singular com o blues do Mississípi, e reminiscências soul e hip-hop – lento e descompassado –, o passado sonoro sacava direcções. Antes explora a herança dub tecno que tão bem caracteriza a sonoridade electrónica alemã desde os meados dos anos 90 – a Basic Channel, e tudo à volta, também vem de imediato à cabeça. O novo som dos Boozoo Bajou é frio sem que se perca a temperatura exótica do passado (sendo "Hirta" o expoente máximo dessa arquitectação). É distante sem que se perca a envolvência. É irreverente sem que perca a ponderação. A nova atitude passa essencialmente por remover a irrelevância pop, despir a música e deixá-la nua de preconceitos, ou maneirismos saudosistas; e que bem se respira a novidade quando o empastelamento vocal desaparece de cena.
Cinco anos de pausa serviram para encontrar nova inspiração, novo propósito, nova atitude. Os Boozoo Bajou reinventam-se corajosamente sem perderem a identidade no processo, algo raro nos dias que correm; e talvez haja uma elegante lição que tipos como os Thivery Corporation poderiam retirar de 4: parar, meditar e ter iniciativa de sair da caixa que inventaram para se aprisionar. 4 não é genial, mas é sem dúvida iluminado de um novo espírito.
r_b_santos_world@hotmail.com
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