DISCOS
Kevin Gates
By Any Means
· 28 Mai 2014 · 22:56 ·
Kevin Gates
By Any Means
2014
Datpiff


Sítios oficiais:
- Datpiff
Kevin Gates
By Any Means
2014
Datpiff


Sítios oficiais:
- Datpiff
Equipado com luzes de neon.
Olhando para os 12 seleccionados para a capa dos “Caloiros” do ano pela revista XXL, salta a vista o facto de haver um número considerável de rappers que tanto incorporam partes cantadas (Chance The Rapper, Lil’ Durk), como praticamente só cantam (Ty Dolla $ign, August Alsina – que nem é propriamente um rapper). Efeitos de um mundo pós-Drake, talvez? Kevin Gates está mais no primeiro grupo. E poderá, tal Chance, Durk, ou Isaiah Rashad, ser considerado um dos segredos bem guardados do hiphop. Seria óptimo que esta capa pudesse torná-lo menos um segredo, e mais o destaque que a música que tem feito recentemente merece. Nativo de Baton Rouge, Lousiana, Gates lancou uma série de mixtapes até que The Luca Brasi Story lhe trouxe maior exposicao em 2013. By Any Means é a segunda mixtape desde então. E terá, discutivelmente, suplantado o nível de The Luca Brasi Story.

Um dos destaques dessa mixtape era “Neon Lights”. E, em By Any Means, Kevin Gates mantém vivo o nome dessa canção. Os sintetizadores que dominam o álbum são espessos e percorrem um espectro de cores capazes de mergulhar uma sala em ambientes irreais. Além de combinarem extremamente bem com a voz de Gates, várias vezes possuída por uma rouquidão que não sabemos se nasce dos conflitos da vida de dealer, se do efeito das próprias drogas. A voz é vulnerável, as rimas são decididas, feitas quer no modo uma-frase-cheia-de-impacto, quer um double time correctíssimo. Mas os refrões quase nunca falham o propósito de aumentar a adrenalina e a violência, e fazer-nos imaginar uma plateia a gritá-los na direcção do palco. Em “Wish I Had It”, a primeira música, Gates declara logo não ter nada a ver com um Flo Rida ou um B.O.B.. O seu sotaque sulista, com consoantes e fins de palavras “cortados”, também não o ajudaria a tal.

Drake pode ser um termo de comparação, embora só no sentido de, onde este fala de relacionamentos, Gates fala de drogas. E os seus sintetizadores são tudo menos relaxantes. Mesmo quando toca no r&b dos 80s, como em “Go Hard”, ou em pianos de filme de terror como em “Homicide”. E como bom álbum trap que é, não lhe faltam óptimos bangers, como “Arm & Hammer” (trata-se de uma marca de bicarbonato de sódio, aparentemente popular para “cortar” a droga), “Bet I’m On It”, com 2 Chainz, ou “Again”. By Any Means é um álbum com bastante variedade dentro do reino em que plantou a sua bandeira, e que aumenta a expectativa sobre como correrá um álbum-mesmo-álbum de Kevin Gates, se bem que, em 2014, as mixtapes são basicamente álbuns. Por agora, saque-se (é grátis) e partilhe-se este álbum, de uma voz que se destaca num campo lotado.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
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