DISCOS
OFF!
Wasted Years
· 08 Mai 2014 · 10:02 ·
OFF!
Wasted Years
2014
Vice Records


Sítios oficiais:
- OFF!
- Vice Records
OFF!
Wasted Years
2014
Vice Records


Sítios oficiais:
- OFF!
- Vice Records
Canto do cisne ou começo do zero?
Imaginem que o punk é uma corda puxada por dois grupos diferentes. De um lado, os "novos black flag" (entre aspas e minúsculas, porque não merecem qualquer tipo de respeito da nossa parte), liderados por um Greg Ginn mais preocupado em fazer com que o odiemos para sempre do que em recordar que algures nos anos oitenta saíram dos seus dedos algumas das melhores malhas da história do rock, principalmente aquelas presentes em Damaged e My War. Do outro, o supergrupo OFF!, a maneira que Keith Morris arranjou para dar vida a canções não gravadas dos Circle Jerks, que viram a sua terceira reunião abortada por novos e chatos desentendimentos. Uns perdem tempo a cagar no seu próprio legado; os outros dão à volta a uma má situação e recomeçam do zero.

A corda, essa, vai esticando para cada um dos lados até um dia se partir, anunciando sem qualquer cerimónia a morte do punk - a não ser que, num acto tresloucado, os Crass se reúnam para tocar em grandes festivais e ter canções em anúncios de televisão. E quem ganha neste concurso movido a três acordes e geriatria hardcore? Estaríamos tentados a escrever "ninguém", até termos escutado os discos dos OFF! (no activo desde 2010) e percebido que, afinal, até havia aqui alguma coisa, que não era um revivalismo, não era uma cópia, nem era um último suspiro. Era algo de novo, uma injecção de adrenalina pura na bonomia das milhentas bandas punk a soar a elas próprias. Era Keith Morris como se Keith Morris nunca houvera existido, alguém entrado de rompante e não um senhor com um enorme fardo institucional às costas.

Wasted Years é o segundo tomo dessa experiência e traz-nos em apenas vinte e três minutos tudo aquilo que deve existir num bom disco rock: porrada farta, riffalhada, uma pázada cheia de gritaria e o inabalável sentimento de confiança que só uma guitarra é capaz de transmitir - o mundo é nosso, vamos a ele. Em suma, uma rodela construída a partir de sangue, suor e lágrimas. Como os enormes discos que se ouviam e que inspiraram livros-barra-lemas de vida (Our Band Could Be Your Life). Wasted Years não precisa de nos tomar muito mais do que uns minutos do nosso tempo para alterar a nossa forma de pensar. Nomeadamente: para quê estar a discutir o que é ou deixa de ser punk quando há gente que ainda se dedica a fazer discos assim? Se those dumb punk kids will buy anything, deixem-nos ser felizes com os "black flags" desta vida. Nós temos a música.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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