Estranha forma de vida. Ano após ano, Mark Kozelek continua a escrever canções sobre a miséria humana de cada um, sobre a morte, uma generalizada falta de esperança. E safa-se com isso. Mais: há quem lhe dê ouvidos e se sujeite ao contacto directo e desprotegido com a realidade nua e crua. É um mistério dos tempos modernos; talvez seja uma forma de lidar com a verdade, talvez seja um pouco masoquista. Talvez seja um pouco necessário.

Primeiro com os saudosos Red House Painters, depois em nome próprio e ultimamente com os Sun Kil Moon, Mark Kozelek tem vindo a mostrar, disco após disco, porque é que é um dos maiores escritores de canções da sua geração. De quando em vez, Kozelek reinventa-se; para que ninguém pense que está distraído ou adormecido. Benji é um desses discos de felicíssima regeneração. No processo, no resultado, na ambição: e isso é notório desde o primeiro minuto.

Raras vezes na discografia de Mark Kozelek a diversidade foi tamanha como neste Benji. Ouça-se “Carissa”, ouça-se “Dogs”, ouça-se “I Watched The Film The Song Remains The Same” (um dos muitos momentos altos deste disco) e tire-se conclusões. Mas mais do que a diversidade, Benji impressiona realmente pela pontaria da maior parte das suas canções; no apuro estético (como não falar daqueles rendilhados acústicos que aparecem aqui e ali para espantoso efeito?), nos textos (autobiográficos até ao osso), na refinadíssima beleza.

Benji é, do início ao fim, com pouquíssimas interrupções, um retumbante sucesso, uma prova de vitalidade. Benji não é apenas o melhor disco de Mark Kozelek com Sun Kil Moon; é também o melhor disco do norte-americano desde o tempo dos Red House Painters. Não que Kozelek tenha vindo a queimar tempo, nada disso; os Sun Kil Moon raramente falharam. Mas Benji é definitivamente o disco que todos queríamos ouvir nos últimos dez anos.