DISCOS
Ermo
Vem Por Aqui
· 02 Dez 2013 · 20:11 ·
Ermo
Vem Por Aqui
2013
Optimus Discos
Sítios oficiais:
- Ermo
- Optimus Discos
Vem Por Aqui
2013
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- Ermo
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Falta cumprir-se Portugal.
Em poucas palavras: os Ermo fizeram neste nobre ano de 2013 o melhor disco que um Portugal afogado há anos (e porque não dizer décadas? E porque não dizer séculos?) poderia ver nascer. Pela crise ou pelo Sebastião que tarda em reaparecer, o país refugia-se em si mesmo, encolhe-se em posição fetal e aguarda pacientemente que lhe tirem o lençol de cima e o obriguem a levantar-se, caminhar, mirar o sol e/ou tomá-lo para si. Mas sob este lúgubre cenário levantam-se algumas vozes discordantes, potenciadas pelo imaginário dos poetas e pela raiva dos bombistas - se bem que nestas coisas da literatura poetas e bombistas sejam uma e a mesma coisa - e dispostas a tomar nas suas mãos o leme da nau à deriva que é este rectângulo à beira-mar plantado. Assim o é o duo de Braga. Capitães sem querer, poetas por defeito e seguidores de uma das máximas de John Lydon: you don't write "God Save The Queen" because you hate the English race. You write a song like that because you love them.
No caso de Vem Por Aqui não existe apenas uma canção nestes moldes, mas várias. "Eu Vi O Sol", "Macau", "Porquê" e "Pangloss" são os exemplos mais cardíacos, porque despertam em nós a vontade de fugir ao inóspito vazio, citando outro poeta e criando uma comparação entre aquilo que os Ermo fazem no presente e aquilo que os Mão Morta trouxeram do passado. Cardíacos, porque o órgão em questão entra em sobressalto de cada vez que António Costa, do alto dos seus sábios vinte anos, nos canta com a destreza de um pároco ah, cheguei aqui, o sol que eu vi, qual bússola apontando o norte, e de cada vez que o instrumental electrónico criado por Bernardo Barbosa ressoa por entre A Palavra. O título, inspirado nos versos tão conhecidos de José Régio e o seu oposto, não poderia ser mais certeiro: vamos por aqui, sim, iremos até que a chama do vosso facho se apague.
Num disco sem falhas a sua maior falha é durar apenas uma escassa meia-hora. Mas até isto vai de encontro ao Portugal actual, o das revoluções de Facebook que duram uma tarde aborrecida até ser novo dia e os telejornais se cansarem das actualizações constantes à porta dos Parlamentos onde nada acontece para além de umas pedras pelo ar e de umas frases aterradoras ditas por cabrões racistas. Faz todo o sentido, portanto, que o disco termine com o optimismo fútil de "Pangloss", em que tudo correrá bem, relembrando uma das personagens do primeiro EP dos Ermo (o Zé de "Concílio"), em que a pequenez e a timidez impede uma mudança radical. Pois bem: os bracarenses, banda que não merecíamos ter visto nascer mas que não o poderiam ter feito noutro lado que não aqui, já iniciaram a sua revolução. Agora é só uma questão de irmos com eles ou comer e calar. Os Ermo cumpriram-se já, falta cumprir-se Portugal.
Paulo CecĂlioNo caso de Vem Por Aqui não existe apenas uma canção nestes moldes, mas várias. "Eu Vi O Sol", "Macau", "Porquê" e "Pangloss" são os exemplos mais cardíacos, porque despertam em nós a vontade de fugir ao inóspito vazio, citando outro poeta e criando uma comparação entre aquilo que os Ermo fazem no presente e aquilo que os Mão Morta trouxeram do passado. Cardíacos, porque o órgão em questão entra em sobressalto de cada vez que António Costa, do alto dos seus sábios vinte anos, nos canta com a destreza de um pároco ah, cheguei aqui, o sol que eu vi, qual bússola apontando o norte, e de cada vez que o instrumental electrónico criado por Bernardo Barbosa ressoa por entre A Palavra. O título, inspirado nos versos tão conhecidos de José Régio e o seu oposto, não poderia ser mais certeiro: vamos por aqui, sim, iremos até que a chama do vosso facho se apague.
Num disco sem falhas a sua maior falha é durar apenas uma escassa meia-hora. Mas até isto vai de encontro ao Portugal actual, o das revoluções de Facebook que duram uma tarde aborrecida até ser novo dia e os telejornais se cansarem das actualizações constantes à porta dos Parlamentos onde nada acontece para além de umas pedras pelo ar e de umas frases aterradoras ditas por cabrões racistas. Faz todo o sentido, portanto, que o disco termine com o optimismo fútil de "Pangloss", em que tudo correrá bem, relembrando uma das personagens do primeiro EP dos Ermo (o Zé de "Concílio"), em que a pequenez e a timidez impede uma mudança radical. Pois bem: os bracarenses, banda que não merecíamos ter visto nascer mas que não o poderiam ter feito noutro lado que não aqui, já iniciaram a sua revolução. Agora é só uma questão de irmos com eles ou comer e calar. Os Ermo cumpriram-se já, falta cumprir-se Portugal.
pauloandrececilio@gmail.com
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