DISCOS
Four Tet
Beautiful Rewind
· 09 Out 2013 · 09:54 ·
Four Tet
Beautiful Rewind
2013
Text Records


Sítios oficiais:
- Four Tet
Four Tet
Beautiful Rewind
2013
Text Records


Sítios oficiais:
- Four Tet
O estudo do espaço segundo Kieran Hebden.
Desde Pink que não o ouvíamos e assumíamos fechado em copas, como que a preparar um estado de crisálida que, antes de Beautiful Rewind, só deu de si em “The Track I’ve Been Playing That People Keep Asking About and That Joy Used in His RA Mix and Daphni Played on Boiler Room”. O mais recente longa-duração de Four Tet é, afinal, o estado final dessa evolução composta, o desabrochar de um estado em que o minimalismo surge com força suficiente para aguentar uma canção e curar a ressaca de mexer o corpo. E é precisamente aqui que reside a principal diferença neste estado evolutivo de Hebden: a busca premente por uma reacção física no ouvinte, ao invés de um apelo forte às emoções e ao sentimento.

Não quer isto dizer que dizer que tudo tenha mudado radicalmente, já que tanto “Our Navigation” como “Ba Teaches Yoga” podiam ouvir-se no passado discográfico do músico. Mas a contemplação, que aqui só é permitida a, deixa sentir a crueza quase violenta da garage que perpassa todo o disco. Esta viagem ao passado musical do país que adoptou Kieran ajudou à incorporação de samples (principalmente vozes, como no caso de “Aerial”) cada vez mais tribais e que acabam cerebralmente distorcidos para contribuir não apenas como um elemento melódico, mas principalmente como uma textura rítmica.

Terá sido essa inflexão estilística que abriu espaço a que, à cuidadosa organização do universo musical de Four Tet, se aliasse um estudo detalhado do espaço (quiçá fruto das experiências com Steve Reid), que em última análise permitiu despir as músicas ao nível de quase minimalismo. O sentimento de espacialidade e exploração de temas como Unicorn e Crush chega a ser palpável e a recordar Steve Reich. E "Buchla", por exemplo, não é mais que uma linha de baixo bem encorpada, uma voz doce e desconstruída num loop interminável e uma secção rítmica a apontar para a pista de dança.

Nunca vou ser capaz de ver o que Four Tet vê quando compõe. Não tenho a capacidade de explorar o espaço e o tempo como ele. Mas a especulação é tão pura como a intenção que Beautiful Rewind tem de fazer dançar, e só posso dizer que Kieran Hebden tinha razão quando dizia que “este é o meu melhor disco de sempre”.
António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com
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