À primeira audição, uma primeira impressão: não há vocalizações. Não são um elemento preponderante na música de Laurel Halo, mas no primeiro longa-duração, "Quarantine" (Hyperdub, 2012), as vocalizações tinham uma presença forte - mais forte do que no precedente EP "Hour Logic" (Hippos In Tanks, 2011), por exemplo -, ao entrelaçarem as densas e hipnóticas atmosferas electrónicas, através de uma espantosa plasticidade (na faixa "Carcass" chega a ser arrepiante), como que impedindo a consciência do ouvinte de se abstrair em demasia, mantendo-a em órbita, ou servindo de ponto de fuga, uma luz no horizonte (a catarse final da faixa "Morcom", nesse sentido, é paradigmática).

A componente ambiental de "Quarantine" também não é tão explorada em "Chance of Rain" (Hyperdub, 2013), o segundo longa-duração de Laurel Halo, com lançamento comercial agendado para o dia 28 de Outubro. Na faixa "Melt" ainda se pressentem alguns desses espectros mais oníricos, com um lânguido saxofone no segmento final, mas no geral trata-se de um disco mais rítmico, mais acelerado, mais físico. Uma versão líquida de techno, na senda de Actress (embora não tão fragmentado e complexo), condimentada com outras linguagens da denominada "música electrónica", desde bass music a deep house ou até alguns elementos acid (sobretudo em "Thrax").

"Evolving from earlier works, it's a cerebral exploration of the intersection between rhythmic and ambient music, drawing together ideas of movement and stillness, psychedelia and presence of mind", lê-se no texto promocional do novo disco. Na prática, as estruturas rítmicas são desconstruídas, resgatando o techno daquela consistência monolítica que por vezes tem um efeito soporífero, traduzido em dança mecanizada. As linhas de teclados e sintetizadores atravessam por entre as estruturas fragmentadas como feixes de luz, suavizando as disrupções de tempo e espaço, ou suspendendo pontes entre distintas camadas sonoras, como na faixa homónima, "Chance of Rain", que pendula entre a propulsão vertical do techno e a contemplação horizontal sugerida via deep house. Com ou sem vocalizações, Laurel Halo é uma das mais estimulantes produtoras em actividade, com uma notável destreza técnica que já comprovou ao vivo, podemos testemunhar em sua defesa.