Convenhamos que o rock n' roll não é exactamente o maior dos poços de originalidade: repete-se, refaz-se, ressuscita, revolta-se, repesca o passado, rejeita o presente, rebenta com o futuro, e é por isso que gostamos tanto dele - porque nos é tão familiar como os traços das mãos ou o cheiro da erva molhada no Outono. Barcelos, nova Meca do rock sem o querer ser, tem muita da culpa de ainda não termos virado definitivamente ao avant-garde ou à "folk de canções" ou a qualquer uma dessas merdas que as pessoas com a mania que são adultas ouvem exclusivamente.

Abençoadas sejam as bandas de Barcelos, então. Os Solar Corona, porque são uma banda de rock, não são originais. No entanto, ao escutar este Innerspace, EP de estreia largado no mundo através do seu Bandcamp, em que cada riff ametalado nos dá a sensação de estarmos a ouvir isto pela primeira vez, como se os anos 60, 70 e 90 fossem uma sombra absoluta na fábrica do tempo, somos levados a dizer que essa treta da originalidade não quer dizer absolutamente nada. Nunca quis, de facto. O plagiato é necessário, é o progresso que o implica...

Innerspace, EP de dezassete minutos, entra para já na categoria de "bandas que vale a pena seguir" para ver aquilo de que estes Solar Corona serão capazes no futuro. Para já são capazes de fazer de Barcelos um gigantesco deserto da Califórnia, explorando a guitarra como quem explora um terreno árido à procura de um pequeno oásis ou um escondido tesouro índio. Tudo no sítio, tudo cativante, de "Samara" a "Widow Leaf": que esta coroa não se cegue a si própria é aquilo que desejamos. Bravo.