Antes de Gecko existia Nazca Lines, EP de edição limitada em que explorava a sua devoção pelos teclados (conforme aqui dissemos na altura), sucedendo-se uma cassete lançada pela mítica Not Not Fun, Nineteen Hundred And Eighty Five, álbum voltado para as possibilidades infinitas da new age no que à electrónica do século XXI diz respeito, sem deixar de parte uma bonita e nostálgica toada hipnagógica - era o som de alguém que, pese embora tudo o que já tinha vindo a fazer desde os Dance Damage e posteriormente nos enormes Aquaparque, procurava ainda a sua própria identidade, auto-definir-se por completo.

Gecko não é assim tão novo quanto isso - estas canções já datam de 2011 - mas é uma reedição essencial, pelas mãos da helvética Mental Groove. Primeiro, porque nos permite voltar a escutar estes sons cósmicos, misteriosos, estes sintetizadores que apontam tanto ao passado como ao futuro (mas o tempo, sabemo-lo, não é uma linha recta e exacta) criando paisagens dignas de ficção científica; segundo, porque não existem muitos discos deste género que nos prendam de imediato a atenção e nos façam mergulhar no mundo mental do seu criador. É isto que acontece logo à partida, com "Borderless" a relaxar corpo e espírito.

Vale a pena, pois, "ganhar" quinze minutos, ou aqueles que forem precisos, a explorar Gecko. Dentro deste conjunto de quatro simples canções há uma que percorre o tecido espacial mais longe do que as demais: trata-se do tema-título, que poderia ser dançável se não estivéssemos tão profundamente adormecidos e fascinados com as melodias kösmiche, frias como o é o terreno além-atmosfera, suaves como um belo sonho de infância, antes de penetrarmos no trance de "200 Miles Away". Gecko pode ter tido de esperar dois anos por um maior reconhecimento, mas quem espera sempre alcança.