DISCOS
POP. 1280
Imps Of Perversion
· 01 Set 2013 · 23:37 ·
POP. 1280
Imps Of Perversion
2013
Sacred Bones


Sítios oficiais:
- POP. 1280
- Sacred Bones
POP. 1280
Imps Of Perversion
2013
Sacred Bones


Sítios oficiais:
- POP. 1280
- Sacred Bones
Acid for blood...
Pouco mais de um ano volvido sobre ”The Horror”, que tão bem jus fazia ao nome, os Pop.1280 voltam ao activo, e não deixam ninguém que tenha ficado impressionado com o álbum anterior ficar mal. Isto pode vir de Brooklyn, mas só o saberemos se formos à página da Wikipedia da banda. Entendamos antes a existência dos Pop.1280 como algo derivado de uma Nova Iorque mais alargada, que (sobre)viveu desde o punk e a no wave. De uns Estados Unidos onde o hardcore ditou leis na vida extra-mainstream muito antes de se ouvir falar em alt-rock. E não se ficam por aí. Quando perguntei a Ivan Lip, o guitarrista, que banda gostavam que voltasse ao activo, nomeou os franceses A.H.Kraken, antiga banda da In The Red Records. E ouvindo-os no YouTube, a resposta fez todo o sentido. Em suma, “Imps Of Perversion” é um magnífico condensado de misantropia, perturbação e agressão, liderado por um vocalista, Chris Bug, capaz de passar por descendente de David “Jesus Lizard” Yow e do Nick Cave que andava completamente janado nos Birthday Party.

Chris Bug e Ivan Lip jogam ao Polícia Mau/Polícia Mau ao longo de ”Imps Of Perversion”. Bug não faz nada que se aproxime de “cantar”, como as pistas no parágrafo anterior terão dado a entender. Lip persegue a voz do seu colega como uma sombra rebelde. Sublinhando as frases, mas dando voltas, nós, rodopios com as cordas e pedais de efeitos da guitarra. Não o imaginamos noutra pose senão dobrado sobre as cordas, suando em bica, e espremer os sons destas como um homem sedento a tentar espremer uma laranja apenas com as mãos. Um ferra os dentes na carne, o outro desfaz tendões e cartilagem. Já a secção rítmica de John Skultrane (baixo) e Andrew Smith (bateria), segura as pontas da maneira que um barco chamado HMS Motorika sem estabilizadores o pode fazer. Apanhamos enjoos com as ondulações do baixo, mas não deixamos de querer fazer air drumming nos toms e nos pratos de choque. O lado electrónico também conquista o seu lugar com afinco. Veja-se a esguia “Human Probe”, em que o orgão sai directo da garagem dos Jonathan Fire*Eater (procurem no YouTube) e interliga-se com uma guitarra de onde jorram faíscas azuis. 5 minutos e meio com potencial para pôr muita gente a dançar, e talvez a melhor música do disco.

Será injusto, porém, não nomear outros grandes momentos de ”Imps Of Perversion”. “Lights Out” é um começo alimentado a nitroglicerina, uma perseguição de um ser antropomórfico que se esconde não sabemos onde. “Control Freak” é instável e tempestuosa. “Nailhouse”, a mais longa, é prima distante de “Cabin Fever” do primeiro álbum dos Bad Seeds. ”Young and dumb and totally numb”, declara Bug à medida que tudo se desagrega à sua volta até voltarmos a ouvir ”In the nailhouse with me. “Do The Anglerfish” termina com a frase-título em apoteose, e paradoxalmente mais limpa que o ruído puro que sai da guitarra na primeira parte. Já “Coma Baby” é a mais perturbadora de todo o disco. Porventura a sucessora de “Bodies In The Dunes” de ”The Horror”. Ambígua, acabamos por perceber que o ”Coma” que Bug refere quando diz ”Coma baby is alive” é apenas a falta de atenção que ela lhe dedica, e que lhe deixa a libido em polvorosa (”Don’t ignore me / Just give me a sign that you’re there”).

Não estou numa de desejar apocalipses, por isso, apesar de pensar que os Pop. 1280 ficariam óptimos a tocar no meio de fogueiras feitas com restos de casas, deixo apenas os votos de que obtenham muitos fãs de todas as idades. Afinal, aquele estereótipo do tipo que quer música “mais calma” quando envelhece é para pobres de espírito que trocam Guns N’Roses por baladas do Lenny Kravitz. ”Imps Of Perversion” é estimulante como poucos, e não pede licença para baralhar neurónios. Não vale a pena não aproximar do lume. Este já nasceu com labaredas.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
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