DISCOS
Dirty Beaches
Drifters / Love Is The Devil
· 29 Mai 2013 · 11:09 ·
Dirty Beaches
Drifters / Love Is The Devil
2013
Zoo Music


Sítios oficiais:
- Dirty Beaches
- Zoo Music
Dirty Beaches
Drifters / Love Is The Devil
2013
Zoo Music


Sítios oficiais:
- Dirty Beaches
- Zoo Music
Que ambição pode ter alguém que vive do lixo?
Faça o que fizer, Alex Hungtai será sempre considerado um outsider. Nasceu em Taiwan - país que ainda não é reconhecido por muitos outros -, é autor de música fantasmagórica e brilhante na sua decadência, e o seu nom de guerre constitui uma das piores imagens mentais que alguém pode ter, a visão de uma praia (símbolo de descontracção, de felicidade, de calor) suja, estragada pela mão humana. Ainda assim, Hungtai sonha, como todos nós, com algo de grandioso. Daí este disco duplo, trabalho de hora e pouco que o vê expandir a sua paleta de sons.

Se é verdade que ainda existe muito de Alan Vega na embriaguez da sua voz - embora já sem o lado mais rockabilly que o fundador dos Suicide demonstrava - Hungtai tenta mostrar-nos que pretende ser mais do que uma cópia; a sujidade escondida no eco de baixa fidelidade é agora inteiramente sua e não um mero objecto hipnagógico. Ouça-se "Night Walk" ou "Casino Lisboa" para o constatar. Acima de tudo existem os sintetizadores, sem dúvida comprados numa loja de antiguidades qualquer. Contudo, Alex Hungtai não se limita a resgatar o passado; mais do que isso, quer conquistá-lo.

Mas existe também um futuro para Hungtai e para Dirty Beaches. Está sobretudo em Love Is The Devil, o disco número dois deste conjunto, que o vê entregue a lados mais experimentais: "Greyhound At Night", electrónica estranha auxiliada por saxofone recorda-nos o jazz noir dos Bohren & Der Club Of Gore, o tema-título mostra-nos que Hungtai não está imune aos encantos clássicos e "Berlin" é bem capaz de fazer pela electrónica nostálgica da década 10 aquilo que os Boards of Canada fizeram em 1996 e 1998... e se Alex é capaz de radicalizar tanto o teu som num ano apenas, que dizer dos que virão. Dois discos, portanto, que merecem duas avaliações: o primeiro far-nos-á abanar o esqueleto, o segundo abrir-nos-á as bocas de espanto. Está aqui um dos lançamentos do ano.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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