DISCOS
Cosmin TRG
Gordian
· 28 Mai 2013 · 20:14 ·
Cosmin TRG
Gordian
2013
50Weapons


Sítios oficiais:
- Cosmin TRG
- 50Weapons
Cosmin TRG
Gordian
2013
50Weapons


Sítios oficiais:
- Cosmin TRG
- 50Weapons
A elipse da desconstrução.
Um rótulo implica sempre uma perda de diversidade, passa sempre por uma simplificação da complexidade. Perante a centrifugação rítmica da música electrónica contemporânea, do dubstep para o pós-dubstep e mais além, traçou-se uma bissectriz multirreferencial: bass music.

Padroniza e simplifica a matéria-prima diversa e complexa (uma possível interpretação da metáfora visual sugerida pela capa do disco) que produtores como Cosmin Nicolae (a mão romena por detrás dos arbustos, ou o embuste da narrativa intitulada Cosmin TRG) se dedicam a trabalhar, aliás, a desconstruir, explorando a plasticidade das linhas de baixo via sintetizadores e esculpindo múltiplas figuras geométricas através de camadas sobrepostas de texturas e ambiências sonoras - o sempiterno movimento pendular entre o tangível e o intangível. Mas vale sobretudo pelo sentido de abrangência e facilitação comunicacional, possibilitando a identificação de ordens aleatórias por entre vórtices de fragmentos mutantes, ou a descoberta de arquipélagos imaginários à deriva no oceano azul-profundo da modernidade líquida (ler Zygmunt Bauman).

A bass music serve como antídoto para a síndrome do "pós-", o prefixo momentaneamente inserido em tudo aquilo que está para além da compreensão contemporânea: pós-jungle, pós-drum & bass, pós-UK garage, pós-2-step, pós-trip hop, pós-broken beat, pós-grime, pós-dubstep, em suma, pós-modernismo. Como que um processamento conceptual em curso, mesclando o passado (retrocesso) e o futuro (progresso) em busca de um ponto de fuga, talvez um novo paradigma, uma nova linguagem, uma hipótese de continuidade? Acabando, contudo, por descrever uma elipse em torno do presente espácio-temporal. Pura alienação.

Daí a devastação, a sensação de vazio, as paisagens desabitadas que vão sendo projectadas ao longo da audição de Gordian (50Weapons, 2013), o segundo longa-duração de Cosmin TRG. A forma sobrepõe-se à função, numa escala mais profunda do que a anteriormente ensaiada em Simulat (50Weapons, 2011), com os elementos house e techno a surgirem mais diluídos, mais difusos, por entre espectros de ficção científica e partículas em colisão. "New Structures for Loving", a sublime faixa de abertura do disco, aponta o caminho. Sem destino. Circular.
Gustavo Sampaio
gsampaio@hotmail.com
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