DISCOS
Pere Ubu
Lady From Shanghai
· 19 Fev 2013 · 17:02 ·

Pere Ubu
Lady From Shanghai
2013
Fire Records
Sítios oficiais:
- Fire Records
Lady From Shanghai
2013
Fire Records
Sítios oficiais:
- Fire Records

Pere Ubu
Lady From Shanghai
2013
Fire Records
Sítios oficiais:
- Fire Records
Lady From Shanghai
2013
Fire Records
Sítios oficiais:
- Fire Records
On the outskirts of nowhere.
Ao 14º album, pouca coisa mudou no mundo de David Thomas e da sua banda de sempre. O que significa que, evidentemente, mais ninguém soa como os Pere Ubu. Tal como vem acontecendo desde que os singles 30 Seconds Over Tokyo” (melhor riff de sempre) e “Final Solution” foram editados em 1975-6. Acompanhado por uma banda de 6 elementos, Thomas concretiza mais uma obra onde, mais do que cantar, a sua voz sussurra-nos ao ouvido, criando uma ambiência de mistério, adequada aos grandes espaços, urbanos e não só, dos EUA. A guitarra do seu companheiro nos Two Pale Boys, Keith Moliné, nunca tráz riffs que se possam designar como ”rock”. Lembram antes agulhas finas que percorrem o centro de memória do cérebro, agindo em conjunção com a voz de Thomas para que nada pareça 100% nítido. Estamos realmente a ver o presente? Estamos num futuro próximo? Distante? O que vivemos é sinistro? Ou somente nublado? Perguntas que ficam sem resposta desde 1975, e que formam um dos maiores encantos desta banda única.
Em “Lady From Shanghai”, a electronica e os sintetizadores são parte crucial. Quer venham do próprio David Thomas, quer dos seus companheiros Robert Wheeler e Gagarin. Ao contrário de outras bandas, no entanto, aqui não falamos nem de retro-futurismo, nem do próprio futurismo. São electrónicas à Pere Ubu, o que significa que não têm, verdadeiramente, um tempo fixo. Os sons sintéticos enrolam-se no vazio deixado quando Thomas pára de cantar, parecendo evocar um homem que olha em volta para se certificar que está realmente a ver o que pensa estar a ver. E, como se em termos de instrumentação pouco usual não fosse já suficiente, não podemos esquecer o clarinete de Darryl Boon, a proporcionar, paradoxalmente, um toque de música de câmara, a uma música que é tudo menos apropriada a espaços fechados.
Só a verve de David Thomas faria uma música – “Thanks” – que substitui a melodia de “Ring My Bell” de Anita Ward com “You can go to hell / Go to hell”, dando o mote para um disco onde uma música diz “Musicians Are Scum”, outra acaba com várias campaínhas/sinos a tocar (“And Then Nothing Happened Today”), e outras são para lá de 6 minutos ao melhor nível dos Pere Ubu (“Mandy”, “Lampshade Man”, “414 Seconds”). É impossível dizer por quantos mais anos teremos David Thomas a cartografar este mundo para nosso benefício. Assim sendo, aproveitemos “Lady From Shanghai” como um exemplo de música liberta de todos os cânones, excepto o de soar a Pere Ubu.
Nuno ProençaEm “Lady From Shanghai”, a electronica e os sintetizadores são parte crucial. Quer venham do próprio David Thomas, quer dos seus companheiros Robert Wheeler e Gagarin. Ao contrário de outras bandas, no entanto, aqui não falamos nem de retro-futurismo, nem do próprio futurismo. São electrónicas à Pere Ubu, o que significa que não têm, verdadeiramente, um tempo fixo. Os sons sintéticos enrolam-se no vazio deixado quando Thomas pára de cantar, parecendo evocar um homem que olha em volta para se certificar que está realmente a ver o que pensa estar a ver. E, como se em termos de instrumentação pouco usual não fosse já suficiente, não podemos esquecer o clarinete de Darryl Boon, a proporcionar, paradoxalmente, um toque de música de câmara, a uma música que é tudo menos apropriada a espaços fechados.
Só a verve de David Thomas faria uma música – “Thanks” – que substitui a melodia de “Ring My Bell” de Anita Ward com “You can go to hell / Go to hell”, dando o mote para um disco onde uma música diz “Musicians Are Scum”, outra acaba com várias campaínhas/sinos a tocar (“And Then Nothing Happened Today”), e outras são para lá de 6 minutos ao melhor nível dos Pere Ubu (“Mandy”, “Lampshade Man”, “414 Seconds”). É impossível dizer por quantos mais anos teremos David Thomas a cartografar este mundo para nosso benefício. Assim sendo, aproveitemos “Lady From Shanghai” como um exemplo de música liberta de todos os cânones, excepto o de soar a Pere Ubu.
nunoproenca@gmail.com
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