DISCOS
Autodigest
A Compressed History of Everything Ever Recorded, Vol.1
· 17 Nov 2003 · 08:00 ·
Autodigest
A Compressed History of Everything Ever Recorded, Vol.1
2003
Crónica


Sítios oficiais:
- Crónica
Autodigest
A Compressed History of Everything Ever Recorded, Vol.1
2003
Crónica


Sítios oficiais:
- Crónica
A priori de qualquer ensaio que seja útil elaborar em redor de A Compressed History of Everything Ever Recorded, Vol.1, é importante dar conta do carácter muito pouco personalizado que um objecto como este álbum encerra. “Written and composed by everyone”, lê-se a dada altura no package do disco. O que é, então, Autodigest? Mais não é do que “uma simulação de processos de implosão cultural”, o que imprime ao disco um carácter que não lhe permite ser inscrito num qualquer período temporal ou espaço físico. Nasce, também por isso, numa época que não é a sua, porque nenhuma o é.

Posto isto, passemos ao que realmente interessa. O título é estranho. A música também, mas de uma estranheza diferente. A linha convencionou-se apelidar de avant-garde ou electrónica inteligente, e raramente deixa moças latejantes de sentimentos profundos. É cerebral, pensada e criada em frente ao laptop de máquinas que foram feitas para obedecer a comandos. Não que perca quaisquer pontos por isso, antes dificulta a sua audição, que parece não querer revelar-se demasiado rapidamente e se esconde timidamente por detrás de sombras e vultos difusos. Quando se revela, deixa quase sempre marcas profundas. Como num impacto, os estilhaços rebentam, saltam e voam. Sempre ao ritmo dos sons. O título, “A Compressed History of Everything Ever Recorded”, é curioso e enquadra-se num conceito imaginativo. Comprimir toda a história da música gravada (que é, essencialmente, a do séc. XX e início de séc. XXI) em pouco menos do que 1 hora pode parecer tarefa impossível. Mas apesar disso, dizemos nós, este disco representa também toda a música que ainda está por gravar. Os sons comportam amplitudes extensas e quando não fazem doer os ouvidos, não se tem a certeza se de facto se está a ouvir alguma coisa.

No final, um pequeno vídeo deixa a pairar no ar uma ideia de antítese face a tudo o que se ouviu antes. Depois da crónica burlesca, da confusão amoral e da experimentação total, uma faixa multimédia, quase sempre silenciosa e quase sempre escura – só o deixa de ser por menos de 1 segundo, quase no final, para não se entender muito bem o que é mostrado – de seu nome “A Possible Antidote” é como que um tratamento de choque. Depois da tempestade, a bonança.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
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