DISCOS
Saint Etienne
Words And Music By Saint Etienne
· 11 Jun 2012 · 11:00 ·
Saint Etienne
Words And Music By Saint Etienne
2012
Heavenly
Words And Music By Saint Etienne
2012
Heavenly
Saint Etienne
Words And Music By Saint Etienne
2012
Heavenly
Words And Music By Saint Etienne
2012
Heavenly
Manifesto pop de uma banda que vem adquirindo o direito de liderar a revolução.
"Guilty pleasure" é, sem dúvida, uma das expressões mais aberrantes do mundo melómano. Não se encare isto como uma crítica a quem a utiliza - porque já todos o fizemos, em maior ou menor número, por não ter encontrado outra que melhor caracterizasse uma determinada canção ou momento musical -, mas sim como uma rejeição da sua existência e dos valores negativos que carrega. Não vale a pena sequer entrar pelo lado Cristão da culpa e do pecado: a música pop é um prazer, sim, um enorme prazer, e não temos de nos sentir deprimidos (porque é isso que a culpa implica) por apreciar a simplicidade de uma canção, a bombasticidade de uma linha de baixo ou de um sintetizador ou de uma guitarra a arrancar uma nota que acelere a nossa batida cardíaca, a voz geralmente impregnada de melaço que nos fala do amor ou de dias bonitos ou da juventude e todos esses atributos que, de um modo geral, encontramos na pop (esquecendo igualmente o sentido mais lato de "música popular", aquela que engloba tudo o que é não-erudito ou tradicional). A pop, a alternativa, a dos topes, é feita, pensada, precisamente para se tornar num prazer. Dizer que uma determinada canção nos faz sentir culpados por gostarmos dela não só é uma parvoíce como uma demonstração de narcisismo e elitismo, como se o nosso gosto fosse demasiado rico para se deter por um instante em sabores plebeus. É uma frase estúpida. É uma caracterização abjecta. Por isso, e se é que nos resta um mínimo de dignidade, esqueçamos, melómanos e não só, hipsters ou mainstreamers, punks ou progs, esqueçamos para sempre o raio da expressão, tomemos as ruas de assalto, ergamos os braços e gritemos: eu gosto de pop. E quando este tipo de culpa não for mais do que um sentimento abstracto perdido no passado, o mundo será finalmente um lugar melhor.
E agora pode-se finalmente falar dos Saint Etienne. À primeira audição poderiam ser um tipo de prazer culpado: nos seus momentos mais over the top, são uma espécie de eurodance formatado para uma audiência que na sua maioria se encontra fora do espectro do mainstream e dos topes; no restante, conjugam de forma quase perfeita a electrónica suave e o formato canção, atestando-o clássicos como Foxbase Alpha ou Good Humor. Mas a verdade é que nada nos seus temas, pequenos manifestos de amor pela pop, a do passado e a do presente, é diferente daquilo que se ouve geralmente nas rádios e nos centros comerciais - e muitas razões existirão para que assim seja, levando-nos inclusive a pensar num tipo diferente de elitismo: se não é ouvido por milhões de pessoas, é porque não presta. O que é uma lástima; em qualquer mundo liberto das garras de uma minoria poderosa, os Saint Etienne estariam no topo do mesmo em vez de limitados às Pitchforks e Uncuts desta vida. Mas não se chore, ouça-se.
Words And Music, o novo disco, apresenta-se precisamente como um testemunho à vitalidade da pop e ao romance que, desde novos, sentimos pela mesma, abrindo com uma memória dessa primeira descoberta em "Over The Top": When I was 10 I wanted to explore the World / There were these older kids at school who'd gone all the way to Somerset / Just to see Peter Gabriel's house, Peter Gabriel from Genesis / They way they'd dressed, the way their hair fell over their coat collars / It all happened because of music, I wanted to know why / I couldn't go to Somerset on my own, so I used Top of the pops as my World Atlas. E daqui em diante ouvir-se-ão histórias várias acerca desta maravilhosa relação com o objecto que é a canção pop, desde aquela que se tem na adolescência ("When I Was Seventeen") até à idade adulta ("Twenty Five Years"), numa toada que não difere daquilo que já conhecíamos e adorávamos no trio britânico: melodias orelhudas, batida de dança orgulhosamente nineties, a voz doce de Sarah Cracknell a enfiar-se nos espaços deixados em aberto pelo instrumental com uma precisão notável. E da mesma maneira que os discos anteriores tinham canções imediatas (Foxbase Alpha tinha a versão de Neil Young e a soberba "Spring", Good Humor tinha "Lose That Girl" e "Hit The Brakes", Finisterre tinha "Shower Scene"...), Words And Music apresenta-nos o hedonismo dance-pop de "Tonight" e de "DJ" para elevar ainda mais o estatuto que os Saint Etienne têm e que poucas bandas alcançam: não conseguem fazer maus discos. Não lhes está no sangue: amam demasiado a pop.
Sendo o primeiro trabalho em seis anos, descontando edições especiais, Words And Music não nos retira a vontade de continuar a acompanhar a história de amor dos Saint Etienne; muito pelo contrário, dá-nos vontade de os ouvir cada vez mais. Afinal de contas, o amor pela pop é também o amor por quem faz essa mesma pop, e quem precisa de culpa quando existe o amor? Independentemente da falta de interesse que, progressivamente, tenhamos pelo género devido à idade - acontecerá, é inevitável -, Words And Music merece ocupar um lugar entre os discos pop para os quais - ainda - temos "paciência". Não devemos esquecer que se trata da mesma banda que canta uma intemporalidade como you're too young to say you're through with love. E é verdade: enquanto houver pop seremos jovens para sempre.
Paulo CecílioE agora pode-se finalmente falar dos Saint Etienne. À primeira audição poderiam ser um tipo de prazer culpado: nos seus momentos mais over the top, são uma espécie de eurodance formatado para uma audiência que na sua maioria se encontra fora do espectro do mainstream e dos topes; no restante, conjugam de forma quase perfeita a electrónica suave e o formato canção, atestando-o clássicos como Foxbase Alpha ou Good Humor. Mas a verdade é que nada nos seus temas, pequenos manifestos de amor pela pop, a do passado e a do presente, é diferente daquilo que se ouve geralmente nas rádios e nos centros comerciais - e muitas razões existirão para que assim seja, levando-nos inclusive a pensar num tipo diferente de elitismo: se não é ouvido por milhões de pessoas, é porque não presta. O que é uma lástima; em qualquer mundo liberto das garras de uma minoria poderosa, os Saint Etienne estariam no topo do mesmo em vez de limitados às Pitchforks e Uncuts desta vida. Mas não se chore, ouça-se.
Words And Music, o novo disco, apresenta-se precisamente como um testemunho à vitalidade da pop e ao romance que, desde novos, sentimos pela mesma, abrindo com uma memória dessa primeira descoberta em "Over The Top": When I was 10 I wanted to explore the World / There were these older kids at school who'd gone all the way to Somerset / Just to see Peter Gabriel's house, Peter Gabriel from Genesis / They way they'd dressed, the way their hair fell over their coat collars / It all happened because of music, I wanted to know why / I couldn't go to Somerset on my own, so I used Top of the pops as my World Atlas. E daqui em diante ouvir-se-ão histórias várias acerca desta maravilhosa relação com o objecto que é a canção pop, desde aquela que se tem na adolescência ("When I Was Seventeen") até à idade adulta ("Twenty Five Years"), numa toada que não difere daquilo que já conhecíamos e adorávamos no trio britânico: melodias orelhudas, batida de dança orgulhosamente nineties, a voz doce de Sarah Cracknell a enfiar-se nos espaços deixados em aberto pelo instrumental com uma precisão notável. E da mesma maneira que os discos anteriores tinham canções imediatas (Foxbase Alpha tinha a versão de Neil Young e a soberba "Spring", Good Humor tinha "Lose That Girl" e "Hit The Brakes", Finisterre tinha "Shower Scene"...), Words And Music apresenta-nos o hedonismo dance-pop de "Tonight" e de "DJ" para elevar ainda mais o estatuto que os Saint Etienne têm e que poucas bandas alcançam: não conseguem fazer maus discos. Não lhes está no sangue: amam demasiado a pop.
Sendo o primeiro trabalho em seis anos, descontando edições especiais, Words And Music não nos retira a vontade de continuar a acompanhar a história de amor dos Saint Etienne; muito pelo contrário, dá-nos vontade de os ouvir cada vez mais. Afinal de contas, o amor pela pop é também o amor por quem faz essa mesma pop, e quem precisa de culpa quando existe o amor? Independentemente da falta de interesse que, progressivamente, tenhamos pelo género devido à idade - acontecerá, é inevitável -, Words And Music merece ocupar um lugar entre os discos pop para os quais - ainda - temos "paciência". Não devemos esquecer que se trata da mesma banda que canta uma intemporalidade como you're too young to say you're through with love. E é verdade: enquanto houver pop seremos jovens para sempre.
pauloandrececilio@gmail.com
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