DISCOS
Moonspell
Alpha Noir / Omega White
· 17 Mai 2012 · 00:39 ·

Moonspell
Alpha Noir / Omega White
2012
Napalm Records
Alpha Noir / Omega White
2012
Napalm Records

Moonspell
Alpha Noir / Omega White
2012
Napalm Records
Alpha Noir / Omega White
2012
Napalm Records
Moonspell em 2012? Para quê?
Antes de mais, há que fazer a defesa dos Moonspell. É uma tarefa difícil - principalmente se não nos pudermos rir - mas necessária de modo a avaliar com o máximo de objectividade possível este novo Alpha Noir / Omega White, o nono disco de originais de um vasto currículo construído desde o início dos anos 90. E é precisamente por essa longevidade que teremos de começar; poucas bandas nacionais conseguirão construir um percurso tão longo e com moderado nível de sucesso (mais por lá fora do que por cá, como diz o cliché) e de qualidade.
A qualidade: The Antidote, disco de 2003 pensado a "meias" com José Luís Peixoto, é muito possivelmente o melhor trabalho que a banda já produziu - e, fora de brincadeiras, um dos melhores discos nacionais da década anterior. Cruzava o gótico com o thrash, o metal extremo com momentos de pungência poética (ainda não nos estamos a rir, "Capricorn At Her Feet" era das coisas mais belas que já se ouviram por cá), possuía uma sonoridade fantástica e um elevado nível de produção; sem erros, sem falhas, sem filler, cada faixa desaguando uma na outra com precisão notável. A banda não é conhecida por se cingir a uma forma específica de música de disco para disco, mas em Antidote pareciam ter finalmente encontrado a fórmula mágica, longe do black / folk de Wolfheart, do gótico de Irreligious e Darkness And Hope, das experiências Sin/Pecado e The Butterfly Effect, também estes excessivamente maltratados pelos fãs e pela crítica.
Depois surgiu Memorial. Não era um mau disco per se, mas parecia ser apenas e só uma tentativa - bem sucedida - de colocar os Moonspell no caminho do estrelato, longe de quaisquer pretensões artísticas - vulgo selling out, que não é algo que se deva evitar ou criticar, excepto quando nos parece tão evidente e desprovido de sentido; o lento despir da roupa que vestiam e a transformação em algo que se pudesse empacotar e vender às legiões de menores frustradas com a vida e que encontraram em "Luna" uma nova canção para a banda-sonora dos seus rasgados pulsos adolescentes. Memorial é hoje lembrado apenas por essa execrável canção, independentemente da força de "Finisterra" ou "At The Image Of Pain".
Escusado será falar do tombo gigante de Night Eternal, cuja "Scorpion Flower" conseguia a proeza de ser ainda pior do que "Luna" na sua Epicidade (de Epica, e não de épico). Este disco de 2008 só veio cimentar a ideia de que os Moonspell se estavam, à falta de palavra melhor, a cagar para a progressão artística. Não será Alpha Noir / Omega White que alterará essa ideia, ainda que digam que um disco duplo é sempre uma experiência nova e outras bojardas categóricas do género. Muito sucintamente, estes eram os Moonspell em 2004: aterrorizavam, eram uma máquina bem oleada no campo do metal gótico/extremo, tinham canções a roçar a genialidade e davam concertos - como o do Rock In Rio em 2004 - memoráveis. Existiam como uma banda inovadora, constantemente reinventando o que poderia ser o metal made in Portugal (até hoje, poucos surgiram que fossem tão originais quanto os Lisboetas, que podiam seguir uma determinada corda musical mas ao invés de a percorrer sem sobressaltos iam dando nós a cada passo). Eram a par dos Mão Morta uma das melhores bandas portuguesas no activo até esse Antidote. Sem nos rirmos. E, hoje, os Moonspell são isto: uma piada teatral de mau gosto.
Temos convidado ao riso, mas a verdade é que os Moonspell, hoje, conhecendo e amando o seu trabalho anterior, dão vontade de chorar. Alpha Noir / Omega White é uma confusão chata de ideias, de guitarras e blast beats reciclados e reciclados e reciclados e teclados que já não criam a ambiência Darkness ou Butterfly. A lírica, que costumava ser um dos pontos fortes independentemente do escárnio que o gótico proporciona sempre na classe mais sofisticada de melómanos (porque são adultos ou coisa que o valha), é agora - ouça-se "Em Nome Do Medo", se aguentarem mais do que meio minuto sem revirarem os olhos - uma xaropada pseudo-angst sem um grito a sério que o sustente. Se no primeiro disco ainda se consegue encontrar uma réstia minúscula daquilo que os Moonspell são capazes de fazer se deixarem de pensar no mundo lá fora (ah, que saudades do orgulhosamente sós de "Alma Mater"), no segundo tudo aquilo que pensávamos ser os Moonspell é destruído e não nos parece que regresse. Para alguém que cresceu a ouvi-los, isto é uma desilusão enorme. Para quem os criticou desde sempre, é apenas mais uma acha na fogueira. Sem querer soar hipster - irá acontecer, invariavelmente, e aceita-se esse ponto de vista sobre estas linhas - os Moonspell nunca deveriam ter saído da sua bolha, mesmo que desejassem conquistar o mundo.
Alpha Noir / Omega White não é sequer um prego no caixão dos Moonspell, porque o mais certo é que pegassem nessa designação como estratégia de marketing apontando aos putos revoltados que ainda existem por aí. Não é um disco duplo ou o nono disco da banda. Não é algo que se ouça ou deva ouvir, criticar ou elogiar. É, apenas e só, um vazio tremendo, que não puxa nem deixa de puxar; os outros discos, valha-nos isso, levavam ao sentimento, fosse positivo (1990-2004) ou negativo (2005-hoje). É, apenas e só, um trabalho como qualquer outro e não um objecto artístico que leve alguém a pensar sobre ele. E isso é triste: que uma banda pense na música como uma fuga ao desemprego e não como uma forma de entrar na cabeça das pessoas. Os Moonspell não querem o desemprego, e serão louvados por isso. Mas serem os trolhas do metal não é motivo de orgulho para ninguém.
Paulo CecílioA qualidade: The Antidote, disco de 2003 pensado a "meias" com José Luís Peixoto, é muito possivelmente o melhor trabalho que a banda já produziu - e, fora de brincadeiras, um dos melhores discos nacionais da década anterior. Cruzava o gótico com o thrash, o metal extremo com momentos de pungência poética (ainda não nos estamos a rir, "Capricorn At Her Feet" era das coisas mais belas que já se ouviram por cá), possuía uma sonoridade fantástica e um elevado nível de produção; sem erros, sem falhas, sem filler, cada faixa desaguando uma na outra com precisão notável. A banda não é conhecida por se cingir a uma forma específica de música de disco para disco, mas em Antidote pareciam ter finalmente encontrado a fórmula mágica, longe do black / folk de Wolfheart, do gótico de Irreligious e Darkness And Hope, das experiências Sin/Pecado e The Butterfly Effect, também estes excessivamente maltratados pelos fãs e pela crítica.
Depois surgiu Memorial. Não era um mau disco per se, mas parecia ser apenas e só uma tentativa - bem sucedida - de colocar os Moonspell no caminho do estrelato, longe de quaisquer pretensões artísticas - vulgo selling out, que não é algo que se deva evitar ou criticar, excepto quando nos parece tão evidente e desprovido de sentido; o lento despir da roupa que vestiam e a transformação em algo que se pudesse empacotar e vender às legiões de menores frustradas com a vida e que encontraram em "Luna" uma nova canção para a banda-sonora dos seus rasgados pulsos adolescentes. Memorial é hoje lembrado apenas por essa execrável canção, independentemente da força de "Finisterra" ou "At The Image Of Pain".
Escusado será falar do tombo gigante de Night Eternal, cuja "Scorpion Flower" conseguia a proeza de ser ainda pior do que "Luna" na sua Epicidade (de Epica, e não de épico). Este disco de 2008 só veio cimentar a ideia de que os Moonspell se estavam, à falta de palavra melhor, a cagar para a progressão artística. Não será Alpha Noir / Omega White que alterará essa ideia, ainda que digam que um disco duplo é sempre uma experiência nova e outras bojardas categóricas do género. Muito sucintamente, estes eram os Moonspell em 2004: aterrorizavam, eram uma máquina bem oleada no campo do metal gótico/extremo, tinham canções a roçar a genialidade e davam concertos - como o do Rock In Rio em 2004 - memoráveis. Existiam como uma banda inovadora, constantemente reinventando o que poderia ser o metal made in Portugal (até hoje, poucos surgiram que fossem tão originais quanto os Lisboetas, que podiam seguir uma determinada corda musical mas ao invés de a percorrer sem sobressaltos iam dando nós a cada passo). Eram a par dos Mão Morta uma das melhores bandas portuguesas no activo até esse Antidote. Sem nos rirmos. E, hoje, os Moonspell são isto: uma piada teatral de mau gosto.
Temos convidado ao riso, mas a verdade é que os Moonspell, hoje, conhecendo e amando o seu trabalho anterior, dão vontade de chorar. Alpha Noir / Omega White é uma confusão chata de ideias, de guitarras e blast beats reciclados e reciclados e reciclados e teclados que já não criam a ambiência Darkness ou Butterfly. A lírica, que costumava ser um dos pontos fortes independentemente do escárnio que o gótico proporciona sempre na classe mais sofisticada de melómanos (porque são adultos ou coisa que o valha), é agora - ouça-se "Em Nome Do Medo", se aguentarem mais do que meio minuto sem revirarem os olhos - uma xaropada pseudo-angst sem um grito a sério que o sustente. Se no primeiro disco ainda se consegue encontrar uma réstia minúscula daquilo que os Moonspell são capazes de fazer se deixarem de pensar no mundo lá fora (ah, que saudades do orgulhosamente sós de "Alma Mater"), no segundo tudo aquilo que pensávamos ser os Moonspell é destruído e não nos parece que regresse. Para alguém que cresceu a ouvi-los, isto é uma desilusão enorme. Para quem os criticou desde sempre, é apenas mais uma acha na fogueira. Sem querer soar hipster - irá acontecer, invariavelmente, e aceita-se esse ponto de vista sobre estas linhas - os Moonspell nunca deveriam ter saído da sua bolha, mesmo que desejassem conquistar o mundo.
Alpha Noir / Omega White não é sequer um prego no caixão dos Moonspell, porque o mais certo é que pegassem nessa designação como estratégia de marketing apontando aos putos revoltados que ainda existem por aí. Não é um disco duplo ou o nono disco da banda. Não é algo que se ouça ou deva ouvir, criticar ou elogiar. É, apenas e só, um vazio tremendo, que não puxa nem deixa de puxar; os outros discos, valha-nos isso, levavam ao sentimento, fosse positivo (1990-2004) ou negativo (2005-hoje). É, apenas e só, um trabalho como qualquer outro e não um objecto artístico que leve alguém a pensar sobre ele. E isso é triste: que uma banda pense na música como uma fuga ao desemprego e não como uma forma de entrar na cabeça das pessoas. Os Moonspell não querem o desemprego, e serão louvados por isso. Mas serem os trolhas do metal não é motivo de orgulho para ninguém.
pauloandrececilio@gmail.com
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