DISCOS
Cloud Nothings
Attack On Memory
· 10 Fev 2012 · 09:48 ·
Cloud Nothings
Attack On Memory
2012
Carpark Records


Sítios oficiais:
- Cloud Nothings
- Carpark Records
Cloud Nothings
Attack On Memory
2012
Carpark Records


Sítios oficiais:
- Cloud Nothings
- Carpark Records
Ao terceiro disco os Cloud Nothings cresceram sem amadurecer. E isso traduz-se num dos melhores lançamentos que 2012 nos deu até agora.
Os Cloud Nothings não são aversos à mudança. Quando Dylan Baldi começou por adoptar esse nome e fazer dele o seu veículo de canções, em 2009, estas eram simples malhas pop/rock de baixo custo, entre as quais se destacou "Hey Cool Kid", hit viral na omnipresente blogosfera e que fez companhia às suas semelhantes em Turning On, mini-LP de apresentação. No início do ano que passou, um disco homónimo mostrava já um maior crescimento por parte de Dylan e dos C.N., talvez impulsionado pelo (igual crescimento do) bate-boca online de que era alvo; Cloud Nothings era muito mais "limpo" que o seu antecessor e aproximava-se do jock punk dos 90's e de bandas hoje tão nostálgicas (para uns) e desinteressantes (para outros) como os Blink-182 e os NOFX, mas as melodias que fizeram com que muitos se apaixonassem por ele/s continuavam por lá.

Attack On Memory, não só pelo que este título implica mas pela sua própria sonoridade, deverá ser entendido como uma cisão completa entre estes Cloud Nothings e aqueles que há um ano escreviam bonitas malhas pop-punk como "Forget You All The Time". Para começar, não deverão continuar a ser vistos como o projecto a solo de Dylan Baldi, que "recrutou" os membros da banda que já tocava com ele ao vivo para que criassem este disco em conjunto. De seguida, o simples facto de ter sido Steve Albini o produtor - ou engenheiro de som, como o próprio prefere - de Attack On Memory mostra que para trás ficam os dias de gravações caseiras e traços estilísticos à la Wavves e demais bandas lo-fi. Finalmente: "No Future/No Past", o single de avanço, não podia ser mais explícito do que isto numa altura em que tanto se fala de retromania.

Claro que esta mudança radical não se traduz em algo de excessivamente original, e podemos argumentar que aqui se encontra o lado irónico de Attack On Memory: seremos invariavelmente impelidos a recordar o emo (o emo a sério, os fãs de My Chemical Romance e derivados que se abstenham de comentar p.f.) dos meados de 90, bem como o "rock alternativo", que hoje em dia se chama "indie rock", que marcou muito desse período. "No Future/No Past" tem Dylan a cantar - ou, melhor, a entoar - um arrastado give up... com o mesmo sentimento de derrota de um ícone como Kurt Cobain ou como alguém que percebeu, depois do período de tesão adolescente, que todos estamos na merda e não há salvação possível. Do pop-punk para o hardcore de um pulso cortado pelo desespero e apatia: o crescimento não é só sonoro. Será igualmente pessoal.

Melhor canção e malha que merece, sem sombra de dúvida, o estatuto de "épica" - e não estamos apenas a dizê-lo porque é a mais longa do disco - "Wasted Days" vai de encontro ao que se escreveu já (I thought I would be more than this tem qualquer outra explicação que não depressiva?) e tem os Nothings em travagem e aceleração constantes, os Sonic Youth com vinte anos a menos de idade e de simbolismo. O ritmo repetitivo acompanha a guitarra até final, o grito ergue-se com a intensidade e a revolta do punk. Com "Fall In" já se tem um regresso à simplicidade pop dos discos anteriores, que não possui, contudo, a jovialidade que se espera desse rótulo - ainda existe revolta e teen angst traduzidas pelo riff acelerado. O restante disco vai oscilando por terrenos pós-hardcore (com os Fugazi à cabeça) e encontramos em "Our Plans" - especialmente no refrão, delicioso, delicioso - o terceiro grande momento deste álbum.

Attack On Memory é um excelente disco. "Ataque à memória" é um título que assume dois lados, o pessoal e musical - sendo que no caso de Dylan estarão naturalmente interligados, pois é ele quem cria e quem se expõe perante uma audiência. Como em todos os grandes discos onde alguém se permite conhecer através da canção, irá reverberar em todos os adolescentes que tenham a oportunidade ou o bom senso de o ouvir. E será, como todos os trintões ou quarentões o poderão atestar, porque já foram adolescentes, um fiel companheiro de quarto. Lembram-se de quando se falava nos Yuck e na nostalgia nineties? Aí estão os Cloud Nothings a segui-los nesse caminho. E esse olhar, essa ironia, essa originalidade ou falta dela, não tem mal nenhum. Nenhum mesmo.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
RELACIONADO / Cloud Nothings