DISCOS
Martyn
Ghost People
· 11 Nov 2011 · 09:55 ·
Martyn
Ghost People
2011
Brainfeeder


Sítios oficiais:
- Martyn
- Brainfeeder
Martyn
Ghost People
2011
Brainfeeder


Sítios oficiais:
- Martyn
- Brainfeeder
Um murro no estômago que necessitávamos?
O síndroma do segundo disco poderia ter sido um problema, como já o foi para muito boa gente que ficou encalhada nas ideias primordiais que ergueram no disco debutante. Martyn não padeceu desse síndroma, não só porque deve ter concluído que Great Lenghts não possuía na realidade o escopo que idealizou na sua mente – apesar de um bom disco, ficou um travo de indefinição estética que lhe retirou o impacto desejado –, mas também porque a sua atitude camaleónica permite-lhe a camuflagem ideal em qualquer género e uma natural adaptação da sua escrita a outras linguagens. O seu percurso tem sido sempre em frente, sem perder tempo com o que lá vai.

Afastando-se cada vez mais da batida bass-music – a que foi acidentalmente conotado –, Martijn Deykers, holandês de nascença, actualmente a residir a Nova Iorque, segue na demanda por novos estádios de liberdade e diferentes estados de espírito, sendo irrelevante a forma como se expressa. O novo Ghost People reflecte uma atitude de libertinagem e hedonismo ambicionando simultaneamente quebrar com seriedade e inteligência uma recorrente fórmula mágica dos nossos dias que se limita a reciclar sem criar. E deve ser por aí que a Brainfeeder de Fyling Lotus encontrou justificações para agarrar Martyn e o arrastar até seu singular catálogo há muito marcado por gente determinada, criativa, capaz de correr riscos.

Ghost People não será o único nestes dias a recuperar o espírito rave e recheá-lo com o melhor que a criatividade ao livre comando da máquina proporciona. Falty DL tem-no feito com primazia e Martyn segue-o em espírito; enquanto o primeiro manipula, retalha e depura o velho garage ou house para vaidade própria e nosso gáudio, o segundo descasca sem peneira e cose um techno/ house ou breakbeat saboroso o suficiente para nos alimentar a gula, para depois dar um murro no estômago e ver como reagimos.

Ghost People procura cobaias que experimentem esta nova apropriação do espírito rave de Martyn e com ele entrem, sem medo, no seu induzido e controlado vortex temporal onde vultos fantasmagórico como Kevin Saunderson, Slam ou Underground Resistance turbinam pela eternidade. E a coisa até resulta bem, apesar de dois ou três empecilhos que por pouco faziam o pleno no alinhamento. Para além desses momentos ligeiramente apáticos ("Distortions", "I Saw You At Tule Lake", "Bauplan") Ghost People – à semelhança de Great Lenghts – está armadilhado com bombas que nada têm de inertes. "Masks", "Popgun", "Horror Vacui" ou "We Are The Future" são petardos rítmicos incrivelmente distintos, eléctricos, exuberantes e hiper-contagiantes que nos sacodem com veemência, mesmo que não nos queiramos mexer. Aqui há química.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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