Os primeiros segundos levam-nos para as mesmas paisagens de Burial, contudo menos depressivas. Há uma escuridão melódica por trás das vozes processadas, uma frieza de ventos teclados que atravessam o o beat lento de poucas rotações, mas definitivamente o eixo é alegria-êxtase. E assim enterra-se a semelhança Burial. Ou pelo menos tenta-se entrerrar. Porque esta música não tem nada de assustador. É bela como Burial mas não tem a beleza assustadora. É mais comedida. O eco e o "reverb" apenas enchem a sala, não nos levam para as ruas de um ghetto graffitado. Não há uma história por trás para contar.

É mais tiro e queda. Aos poucos leva-nos sim para um chill out de final de tarde que tarda a acabar, e que nos faz sentir vivos. Aliás, tudo acaba com "Feel Something", expressão de ordem que levamos à letra. Como no sexy "Touch". Tocar, sentir, dois bons verbos para este tipo de coisas que a Tri Angle anda a lançar. Neste caso em particular não há grande ponte para o hip-hop, a coisa fica mesmo por uma espécie de IDM poppy que partilha com o resto do catálogo o bom-gosto das melodias "chill".

Holy Other não descura obviamente um dos vértices do triângulo: construções melódicas glaciares, ideais para refrescar o corpo e a mente. Seja para este calor que ainda se faz sentir por esse falso Outono fora, seja quando o frio e a chuva vierem em força e o calor passar a estar dentro dos cobertores, junto à lareira, no embaciado do vidro da janela da rua, estes 5 temas deste EP prometem algo mais no futuro. Ficamos à espera.