
Musique Automatique
2002
Kill Rock Stars
Sítios oficiais:
- Stereo Total
- Kill Rock Stars

Musique Automatique
2002
Kill Rock Stars
Sítios oficiais:
- Stereo Total
- Kill Rock Stars
«From my lips to the microphone,
from the microphone to the amp,
from the amp to the soundsystem,
from the soundsystem to your ear»
(em «Automatic Music»)
Música automática, pois então. E, já agora, enigmática, romântica,
excêntrica, histérica, nostálgica, patética e caótica. Pelo menos é deste modo
que a dupla franco-alemã Stereo Total nos cita, na faixa inaugural de Musique
Automatique, o seu mundo feito de sons e cores.
Preenchido por dezasseis temas (mais cinco extra) de duração curta como qualquer
moda, Musique Automatique, o quinto álbum do projecto encabeçado por
Françoise Cactus (a voz principal) e de Brezel Göring (o homem dos vários instrumentos),
revela-se ao ouvinte de forma descomprometida e descomplexada q.b. Musicalmente
falando, de repente, tanto nos poderá passar pela mente a referência Serge Gainsbourg
como legados do punk, do blues, do disco, do surf,
do synth pop, condimentos que, por sua vez, possuem, neste caso, o poder
de transformar a música electrónica em matéria diversificada. Destaque-se, deste
caldeirão de citações, o electro-rock’n’roll com cheiro a Beach Boys
de «Automatic Music», a batida hip-hop com muito sol de «L’amour À 3»,
o techno automático e hipnótico de «Wir Tanzen Im 4-Eck», o punk
primário com refrão pop de «Le Diable», a romântica e triste voz em «Ypsilon»
e o surf-punk com travo oriental de «Hep Analti’da». O resto é mais do
mesmo, quase sempre com a direcção apontada para os anos 80, dos quais os momentos
mais kitsch não serão certamente inocentes.
Eles avisaram logo no início da viagem. Música, moda e automatismo andariam
de mão dada. Os robots, as bonecas de lábios carregados de vermelho vivo e as
roupas provocantes e kitsch que desfilam pelo booklet do álbum não estão
ali por acaso. As letras também não. Não se exija muito. Fale-se ou cante-se
- em francês, inglês, turco ou alemão - de «amour à trois» sem preconceitos,
fale-se de música automática, da rádio, da dança e no desejo de ficar eternamente
nos 16 anos. De forma banal, adolescente e vazia. Fale-se ou cante-se, antes,
com doses de estilo. Eis a receita para o sucesso de qualquer moda.
Numa altura em que o revivalismo do electro está tão em voga (muito por
culpa das também germânicas Chicks On Speed ou de gente como Peaches, Ladytron,
Miss Kittin e Felix Da Housecat), não é sensato que um objecto como Musique
Automatique, que tão sabiamente foi fabricado, passe ao lado dos cada vez
mais numerosos aficcionados por esta corrente.
No entanto, fique bem claro, Musique Automatique, como qualquer moda,
não é um trabalho que possa ser levado demasiadamente a sério. E é nesta particularidade
que está, simultaneamente, o melhor e o pior dos Stereo Total: o facto de não
passar de uma mera piada engraçada e muitas vezes eficaz, mas que vai perdendo,
como uma pastilha elástica, o sabor ao fim de algum tempo (se tocado até à exaustão).
O melhor da piada é que nunca magoa e, quando contada esporadicamente, inspira
sorrisos de orelha a orelha. Mas não se abuse do objecto! Brinque-se com a Barbie
mas cuidado com as pernas! Afinal são de plástico.
tcarvalho@esec.pt