DISCOS
Stereo Total
Musique Automatique
· 24 Ago 2003 · 08:00 ·
Stereo Total
Musique Automatique
2002
Kill Rock Stars


Sítios oficiais:
- Stereo Total
- Kill Rock Stars
Stereo Total
Musique Automatique
2002
Kill Rock Stars


Sítios oficiais:
- Stereo Total
- Kill Rock Stars

«From my lips to the microphone,
from the microphone to the amp,
from the amp to the soundsystem,
from the soundsystem to your ear»


(em «Automatic Music»)

Música automática, pois então. E, já agora, enigmática, romântica, excêntrica, histérica, nostálgica, patética e caótica. Pelo menos é deste modo que a dupla franco-alemã Stereo Total nos cita, na faixa inaugural de Musique Automatique, o seu mundo feito de sons e cores.

Preenchido por dezasseis temas (mais cinco extra) de duração curta como qualquer moda, Musique Automatique, o quinto álbum do projecto encabeçado por Françoise Cactus (a voz principal) e de Brezel Göring (o homem dos vários instrumentos), revela-se ao ouvinte de forma descomprometida e descomplexada q.b. Musicalmente falando, de repente, tanto nos poderá passar pela mente a referência Serge Gainsbourg como legados do punk, do blues, do disco, do surf, do synth pop, condimentos que, por sua vez, possuem, neste caso, o poder de transformar a música electrónica em matéria diversificada. Destaque-se, deste caldeirão de citações, o electro-rock’n’roll com cheiro a Beach Boys de «Automatic Music», a batida hip-hop com muito sol de «L’amour À 3», o techno automático e hipnótico de «Wir Tanzen Im 4-Eck», o punk primário com refrão pop de «Le Diable», a romântica e triste voz em «Ypsilon» e o surf-punk com travo oriental de «Hep Analti’da». O resto é mais do mesmo, quase sempre com a direcção apontada para os anos 80, dos quais os momentos mais kitsch não serão certamente inocentes.

Eles avisaram logo no início da viagem. Música, moda e automatismo andariam de mão dada. Os robots, as bonecas de lábios carregados de vermelho vivo e as roupas provocantes e kitsch que desfilam pelo booklet do álbum não estão ali por acaso. As letras também não. Não se exija muito. Fale-se ou cante-se - em francês, inglês, turco ou alemão - de «amour à trois» sem preconceitos, fale-se de música automática, da rádio, da dança e no desejo de ficar eternamente nos 16 anos. De forma banal, adolescente e vazia. Fale-se ou cante-se, antes, com doses de estilo. Eis a receita para o sucesso de qualquer moda.

Numa altura em que o revivalismo do electro está tão em voga (muito por culpa das também germânicas Chicks On Speed ou de gente como Peaches, Ladytron, Miss Kittin e Felix Da Housecat), não é sensato que um objecto como Musique Automatique, que tão sabiamente foi fabricado, passe ao lado dos cada vez mais numerosos aficcionados por esta corrente.

No entanto, fique bem claro, Musique Automatique, como qualquer moda, não é um trabalho que possa ser levado demasiadamente a sério. E é nesta particularidade que está, simultaneamente, o melhor e o pior dos Stereo Total: o facto de não passar de uma mera piada engraçada e muitas vezes eficaz, mas que vai perdendo, como uma pastilha elástica, o sabor ao fim de algum tempo (se tocado até à exaustão). O melhor da piada é que nunca magoa e, quando contada esporadicamente, inspira sorrisos de orelha a orelha. Mas não se abuse do objecto! Brinque-se com a Barbie mas cuidado com as pernas! Afinal são de plástico.

Tiago Carvalho
tcarvalho@esec.pt
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