DISCOS
Chico Buarque
Chico
· 28 Jul 2011 · 15:54 ·
Chico Buarque
Chico
2011
Biscoito Fino


Sítios oficiais:
- Chico Buarque
- Biscoito Fino
Chico Buarque
Chico
2011
Biscoito Fino


Sítios oficiais:
- Chico Buarque
- Biscoito Fino
O regresso de um gigante.
Chico Buarque de Hollanda poderia, aos 67 anos de idade e com uma obra musical vastíssima, descansar, viver dos rendimentos, fazer render o peixe em compilações de êxitos, viver uma reforma tranquila. Mas não, aos 67 anos de idade o velho Francisco acaba de editar um novo disco, um disco sobre o amor (ele sabe bem do que fala), um novo lote de temas originais que nos fazem acreditar que a criatividade não tem limite temporal.

O anterior álbum de originais, Carioca de 2006, não era um mau disco: continha os ingredientes habituais, uma grande produção e algumas canções que ficaram para sempre (“Ela faz cinema”, “As atrizes”). Este novo disco, cinco anos passados, não fica nada atrás desse disco e o entusiasmo das primeiras audições leva-nos a dizer que este Chico, de arranjos despidos à essência, suplanta o anterior sem dificuldade.

O novo Chico arranca com “Querido Diário”, onde uma melodia simples revela uma eficácia sem igual e se entrosa com uma letra irresistível - “mas eu não quebro não / porque eu sou macio”. Ao longo de todo o disco Buarque de Hollanda vai flirtando com vários géneros: “Essa pequena” é um quase-blues; “Tipo um baião” assume a aproximação ao “baião do [Luiz] Gonzaga”; e naturalmente não falta samba, como em “Barafunda”, magnífica canção que relata uma confusão de memórias, onde se cruzam Garrincha, Barbarela e Cartola (“quando a verde-rosa saiu campeã / cantando Cartola ao romper da manhã”). Tudo isto é trabalhado com suprema sofisticação e elegância instrumental, tudo isto é bossa nova.

Um dos destaques do disco é a valsa-canção “Nina”, que descreve o amor platónico por uma jovem moscovita – e que fará parte da banda sonora do novo filme de Teresa Villaverde, Cisne. Do disco destacam-se três temas em parceria: “Se eu soubesse” conta com a participação de Thaís Gulin (esta composição havia sido previamente gravada pela cantora no seu disco ôÔÔôôÔôÔ); em “Sou eu” Chico canta ao lado do senhor Wilson das Neves (retomando a parceria que celebrizou o belo “Grande Hotel”); na lindíssima "Sinhá" a voz de Chico é acompanhada pela guitarra de João Bosco, sendo relatada na primeira pessoa a comovente história de um escravo que viu inadvertidamente a senhora a banhar-se no rio e por esse motivo vê agora a sua vida a andar para trás.

Chico Buarque de Hollanda poderia estar a descansar, mas em vez disso acaba de editar um belíssimo novo disco que não é apenas sobre o amor, é o amor: onde a poesia das palavras seduz como mais ninguém, onde a música nos conquista pela essência de cada melodia. Não há dúvidas, o gigante voltou em grande forma, este novo Chico é uma obra enorme e ficará bem na prateleira ao lado de monumentos como Meus Caros Amigos, Chico Canta ou Vida.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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