DISCOS
Kode 9 + The Spaceape
Black Sun
· 13 Mai 2011 · 09:37 ·
Kode 9 + The Spaceape
Black Sun
2011
Hyperdub


Sítios oficiais:
- Kode 9 + The Spaceape
- Hyperdub
Kode 9 + The Spaceape
Black Sun
2011
Hyperdub


Sítios oficiais:
- Kode 9 + The Spaceape
- Hyperdub
"O Dubstep Já Não É O Que Era", um epítome segundo Steve Goodman.
Sem condescendências: nada no dubstep voltará a ser o que foi. Eis mais um indício óbvio. Se com as indulgências enigmáticas do manifesto dubstep que foi Memories Of The Future se alargavam as possibilidades estéticas do género, e com elas se cimentava em definitivo uma identidade própria – com o baixo a reafirmar o seu domínio na condução das especulações sonoras –, volvidos cinco anos sobre esse disco pioneiro, o novo Black Sun de Kode 9 e The Spaceape é uma espécie uma súmula das transformações que – perdoe-se o pleonasmo – transformaram o dubstep. Um ponto de observação que permite uma retrospectiva entre a apoteose (2005/ 2006) e a actual era pós-dubstep.

Sendo prova viva da diluição dos limites da (chamemos-lhe, por agora) bass music, Black Sun é um genuíno fruto dos tempos que atravessamos, revelando diante do melómano uma sonoridade claramente em trânsito para um qualquer lugar ainda sem coordenadas definidas. Steve Goodman (uma vez mais a par com soturno The Spaceape) percebe o meio onde se movimenta, daí o recurso a um pragmatismo moderado que lhe permite o fácil encaixe de boa parte das noções dubstep, UK garage, UK funky ou house que têm entusiasmado o underground britânico – e que a própria editora de Kode 9, a Hyperdub, tem promovido sem medo de provocar cicatrizes –, racionalizando técnicas, destilando maneirismos, comprimindo experiências; enfim, transformando tudo numa ciência mais ou menos exacta. Assim vai, de momento, demarcando com firmeza o seu domínio académico sem que seja forçado a criar rupturas significativas.

Black Sun vive, portanto, num limbo onde o passado co-habita sem atritos com o futuro; com ambiguidades bem patentes, que se ignoram com facilidade dada a sofisticação da operação. O tom profético e pesaroso de Memories Of The Future é abandonado, o negrume alienígena é aligeirado, tal como a densidade atmosférica. O conceptualismo que permitia o fluxo filosófico-poético em câmara lenta – envolto num serrado nevoeiro dub – é agora substituído por um dinamismo rítmico instantâneo que prefere o hedonismo e a fantasia cósmica. Mas nem por isso Black Sun é diametralmente mais luminoso e esperançoso que o seu antecessor, mesmo que diligencie a luz dos deuses para o discorrer de alguma sensualidade feminina em passinhos de dança. Os baixos mantêm-se incisivos e pesados, a catástrofe iminente surge ocasionalmente acompanhada com inflexões cinematográficas e até The Spaceape continua da quarta dimensão a relatar, via sub-espaço, uma qualquer realidade negra e estranha parecida com a nossa. Para apreciadores de fringe science.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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