Os americanos continuam a marcar pontos. Poucas semanas volvidas sobre o excelente Complex Housing de Salva, vez agora de Falty DL fazer valer a sua arte particular sobre o colectivo sonoro do underground britânico. You Stand Uncertain marca o regresso do nova-iorquino Drew Lustman, esteta 2 step/ UK garage que, de forma insistente, tem procurado uma reconversão das linguagens mais comuns do dubstep e da house num híbrido pujante onde também haja lugar para os elementos que muito caracterizaram o boom criativo da electrónica nos finais de 80 e inícios de 90 na Inglaterra.

You Stand Uncertain é um lugar familiar para quem se apaixonou pelas primeiras obras dos 808 State, Future Sound of London, Shut Up and Dance ou os LFO, isto enquanto conclui que EL-B nada teve a perder quando raptou o 2 step das passerelles e o projectou para um território dub mais escuro e fumarento, definitivamente menos cintilante e glamoroso. Já o ignorado disco de estreia de 2009, Love Is A Liability, navegava confiante nestas águas turbulentas onde as correntes da velha escola que alimentou as raves se encontram com os novos ensinamentos da bass-music. Daí a boa parte da pertinência deste segundo trabalho de Falty DL: paira no ar o doce perfume da nostalgia enquanto se renovam os motivos para acompanhar toda cena pós-dubstep. Uma cena na qual tanto Falty DL, como Burial, já estavam inseridos mesmo antes da expressão ter sido usada pela primeira vez.

Já aqui se escrevia em 2009, a propósito de Love Is A Liability, no constante prazer de descoberta. Uma constante que renovava uma fé no underground que julgávamos ter perdido. Não era mentira na altura, tal como hoje continua a fazer o mesmo sentido quando se ouve este carismático You Stand Uncertain, disco que aprofunda ainda mais o que Love Is A Liability começou.

Além da aposta num formato de canção, onde as vozes de Anneka e Lily Mackenzie desbravam mato num r&b tão característico nestes dias de aprofundamento dos princípios do velho garage, deparamos-nos também com a crescente obsessão pela percussão. É de um disco bem ritmado – amiúde sincopado e esquizofrénico – de que falamos, mas nem por isso um disco facilmente dançável. Os ambientes, esses, continuam charmosos, uma clara constante numa música que espalha descaradamente sensualidade pela madrugada fora mas que não desiste das coloridas orgias só porque os primeiros raios de sol irrompem pela escuridão. You Stand Uncertain é uma obra de genuíno interesse que se descobre com facilidade e que abre portas para a redescoberta de clássicos essenciais na (r)evolução da música electrónica. Entre o ontem e o amanhã, para ouvir, de preferência, entre o ébrio e o sóbrio, entre a noite e o dia, com ou sem vontade.