DISCOS
Nicolas Jaar
Space Is Only Noise
· 17 Mar 2011 · 00:34 ·
Nicolas Jaar
Space Is Only Noise
2011
Circus Company / Flur


Sítios oficiais:
- Nicolas Jaar
- Circus Company
- Flur
Nicolas Jaar
Space Is Only Noise
2011
Circus Company / Flur


Sítios oficiais:
- Nicolas Jaar
- Circus Company
- Flur
Sonhos sofisticados e extravagantes no interior de outro sonho estranho.
Quem se recordar da premissa elementar por detrás de Inception de Christopher Nolan, recordar-se-á que não existem limites para os sonhos. Todos já testemunharam a vasta variedade de situações metafóricas que, aparentemente, o subconsciente produz com alegórica subtileza, fazendo-nos acreditar em tudo o que por ali se passa, misturando cenários fisicamente inconciliáveis, pessoas geograficamente distantes umas das outras, sentimentos contraditórios baseados em medos irracionais, viagens imagináveis à quinta dimensão, namoros impossíveis ou orgias romanas com todas as amigas boas que constam da agenda de contactos. Com o mesmo filme, abriu-se ainda a possibilidade – mera ficção-cientifica, entenda-se – de alguém habilmente penetrar nos sonhos alheios e deles exumar a informação mais íntima, nem que fosse com o recurso de outros sonhos de outras pessoas – como se de uma ligação de computadores em rede se tratasse.

Com o rio de imaginação a galgar a margem, também de Space Is Only Noise se poderia concluir que tudo não passa de um sonho estranho, soturno, surreal e esquizofrénico. Um sonho que o norte-americano Nicolas Jaar resgatou das profundezas do seu subconsciente e traduziu em música. "Être" é prologo: “Look, it’s a body, floating into the land. Now it’s a body swimming out into the water. Now it’s the land itself, here, that is a body; a body of land. It’s the water itself that’s a body of water". Daí em diante, inicia-se a dicotomia propriamente dita. Com cada porta que escolhemos atravessar, entramos numa realidade nova que proporciona mais umas quantas; em dimensões de referências familiares que no mundo real nunca imaginámos muito bem a comungar tão próximas. Tudo a fluir por entre rios, riachos e cursos de água insignificantes.

A pop é uma constante neste disco, mesmo que não se assuma de imediato. O entrelaçado entre diversas estéticas surge com sofisticada eloquência, arrendando-se, para cada um dos catorze trechos desta respeitável ilusão, fracções de hip-hop em câmara lenta, de piano em tonalidades neoclássicas, de David Lynch, de blues, de electrónica glitch, de house, de Villalobos e até da electro-pop revivalista da extinta Output Records. Space Is Only Noise revela-se com naturalidade apesar do ambiente pesaroso, da melancolia ou da inquietação que sugere inicialmente. Pulsa vida, é humano na forma como se expressa. E apesar das extravagâncias destes sonhos no interior do mesmo sonho, estamos perante uma realidade palpável, onde a hipotética falta de nexo se torna, na verdade, a verdadeira força deste admirável exercício de especulação pop. Que continue a sonhar assim.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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