DISCOS
James Blake
James Blake
· 17 Fev 2011 · 22:55 ·
James Blake
James Blake
2011
Atlas Recordings / Universal


Sítios oficiais:
- James Blake
- Universal
James Blake
James Blake
2011
Atlas Recordings / Universal


Sítios oficiais:
- James Blake
- Universal
Homónima e auspiciosa estreia de um jovem produtor que passou a fazer canções para a geração bass-music.
Não se deve avaliar a obra pela capa, mas nem por isso ela deverá ser ignorada. Há iconografias que reflectem suficientemente o conteúdo da obra, aumentando a relevância que autor quer transmitir. No caso do muito aguardado disco de estreia de James Blake, além da ausência de um título – como afirmação de um vincado cunho pessoal na música –, há a personagem principal de toda a acção bem estampada na frente, há contornos desfocados, expressões distorcidas, solidão e uma evidente predominância de um azul melancólico. Nesta simples e directa dialéctica visual que Blake estabelece intimamente com quem quer abraçar a sua arte, começa-se a construir uma ponte rústica – mas segura – que irá unir-se à outra margem do seu idealizado e facundo universo: a sua música.

Na fértil margem do som, os elementos suspeitos, antes meramente visualizados na capa, passam a certezas. É de música melancólica, solitária, pessoal, desfocada e sombreada que se trata. Um homónimo que o é genuinamente. Autobiográfico? Talvez. Mas nem isso será o mais significativo num disco de sonetos imperfeitos, incompletos e com um sentido circunscrito aos ímpetos de quem os escreve. E o drama desenrola-se com naturalidade repleto de lamentos e murmúrios que sacodem as cordas vocais num mistifório de pungências melódicas ao piano, silêncios, ecos, pulsações electrónicas e graves possantes invadidos pela auto-dúvida existencial. Para todos os efeitos, as noções dubstep deixaram de fazer sentido numa expansão sonora experimental que tem agora nas linhas clássicas da pop e da soul parte da sua força motriz.

Passadas as experiências que o notabilizaram como um dos principais arautos do pós-dubstep, este disco de estreia é um desusado prontuário de canções sentidas que se fazem sentir. Canções pop e soul intuitivas e introvertidas, de finíssimo recorte irregular, pontualmente lo-fi e incompletas, que conscientemente preferem a imperfeição da forma em benefício da exposição da riqueza substancial da alma. James Blake é minimal, transparente, lúcido e jamais se sentirá melindrado por comparações. A sua música não é perfeita – e nem se poderá dizer que, para já, seja um extraordinário escritor de canções – mas a produção é sofisticadamente caseira e certeira. E porque os silêncios também trazem consigo uma mensagem relevante para a narrativa em vez de serem desinspirados espaços em branco, Blake prova ser um prodigioso compositor – em nome dos sentimentos – por recorrer à verve que lhe corre nas veias para se fazer sentir bem presente num planeta de imitadores que ainda não desistiu da chegada redentora de um novo messias.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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