A história repete-se. While his guitar gently weeps, Mark Kozelek, quem mais?, relata-nos, com aquela voz experiente e sabedora, histórias delicodoces próprias das vivências destes nossos tempos. Liderando os Sun Kil Moon (cujo nome parece cada vez menos o de um ditador coreano – com um nome incriminador - que a história tratou de retratar), Kozelek parece cada vez mais no sítio certo, conseguindo mesmo até apagar um certo mau estar – hipotético e romântico – em relação à forma como as coisas terminaram com os seus Red House Painters, que deram ao mundo a riquíssima discografia que se conhece.

Mas na verdade este disco até carrega algumas surpresas. Mark Kozelek, em Admiral Fell Promises, editado na sua Caldo Verde (não, não é um erro provocado pela fome de comida e arraiais), está só. Só daquela forma que só ele consegue estar: a falar de males de amor, assegurando um trabalho na guitarra que, ora intrincado ora simples, carrega sempre a melhor das intenções. Uma nota só pode mudar uma canção, uma canção só pode transportar qualquer um para o Chile ou para uma eterna solidão, uma solidão só pode guiar um homem, um homem apenas consegue escrever canções assim. Haters gonna hate, mas quem vê em Kozelek o cantautor de uma geração tem aqui mais motivos de contentamento.

Mark Kozelek pode não ter inventado o slowcore, mas fez certamente deste um sítio melhor para se estar. Com mais ar, com mais criatividade, com uma discografia que se vai alargando com os tempos aumentando um repertório que já não lhe pertence; que se tornou imaterial. Com os Red House Painters ou com os Sun Kil Moon, ou até mesmo a solo, Mark Kozelek é um escritor de canções maior. Ponham estas canções a dar nas praças egípcias e tunisinas deste mundo e vejam o que acontece.