DISCOS
zeitkratzer
[Old School] Alvin Lucier / Whitehouse [Electronics]
· 14 Dez 2010 · 20:01 ·
zeitkratzer
[Old School] Alvin Lucier / Whitehouse [Electronics]
2010
zeitkratzer


Sítios oficiais:
- zeitkratzer
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[Old School] Alvin Lucier / Whitehouse [Electronics]
2010
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Sítios oficiais:
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Revisitações entre abstraccionismos clássicos e modernos.
Neste ano de 2010 os zeitkratzer já editaram dois [Old School] John Cage / [Old School] James Tenney. Antes de o ano acabar o ensemble liderado por Reinhold Frield volta a atacar com uma dupla de gravações: [Old School] Alvin Lucier e Whitehouse [Electronics]. De um lado, o ensemble revisita a obra de um compositor contemporâneo americano que já alcançou a respeitabilidade global, Lucier, na série “Old School” ao lado de Cage; do outro, um ataca a obra do pioneiros da electróncia extrema, Whitehouse, na série “Electronics” - por onde já passaram Keiji Haino ou Terre Thaemlitz.

No disco dedicado a Lucier, o autor da célebre obra I am sitting in a room (1969), são interpretadas cinco peças, de aproximadamente dez minutos de duração cada uma. O disco abre com “Fideliotrio”, com o piano a lutar no meio de um ambiente assombrado pelas cordas, como quem acaba de entrar à socapa na orgia do Eyes Wide Shut. Ao segundo tema diversos e-bows pairam sobre as cordas de um piano, gerando prolongados zumbidos que se vão intercalando. Ao terceiro tema, “Silver Streetcard for the Orchestra”, um solo de ferrinhos prolonga-se infinitamente e aquela ressonância metálica leva-nos a um estado de letargia. Com “Violynn”, peça para violino e efeitos, regressam os zumbidos, ciclicamente. O disco fecha com “Opera With Objects”, numa multiplicidade de percussões de objectos (a lembrar, ao longe, Reich). Lucier sempre se interessou pela exploração dos efeitos do som e as interpretações do zeitkratzer concretizam a ambição do compositor em toda a amplitude, sendo que estas experiência sonoras são também, ou sobretudo, experiências sensoriais.

Ao revisitar o território dos Whitehouse, de William Bennett, o grupo alemão tem uma abordagem menos subtil. Desenvolvendo uma sonoridade muito cheia, o zeitkratzer não utiliza instrumentos electrónicos, apenas instrumentação acústica (e amplificada), mas o resultado consegue emular na perfeição a utilização de electrónica abusiva. Magnífica turbulência sonora, esta meia dúzia de temas é suficiente para criar uma tensão demoníaca, pela sobreposição dos diversos instrumentos tocados com a raiva de quem acaba de endoidecer. Depois das interpretações de John Cage e James Tenney, com esta nova dose dupla - Alvin Lucier e Whitehouse - o ensemble de Reinhold Friedl confirma-se como o mais interessante, aberto, irreverente, criativo e provocador ensemble da música contemporânea da actualidade.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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