DISCOS
anbb
Mimikry
· 09 Nov 2010 · 10:09 ·

anbb
Mimikry
2010
Raster-Noton
Sítios oficiais:
- anbb
- Raster-Noton
Mimikry
2010
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Terapia de choque.
One is the loneliest number. E é por isso que os anbb são dois, Carsten Nicolai (Alva Noto) e Blixa Bargeld (Einstürzende Neubauten e Bad Seeds). Tal colaboração seria à partida uma ocasião única para juntar a electricidade-tornada-ritmo nas mãos de Nicolai e os ensinamentos industriais que Bargeld teve nestes trinta(!) anos de Neubauten; de facto, um prenúncio do que estaria para surgir das mãos destes dois expoentes do engenho alemão deu-se em Ret Marut Handshake, óptimo EP de apresentação que contava entre si a obra minimal de "Electricity Is Fiction" e duas belas versões: "One" (Harry Nilsson) e "I Wish I Was A Mole In The Ground" (canção tradicional Americana). O cruzamento do glitch de Nicolai com a voz de Bargeld traduzia-se num disco pulsante e dançável q.b. - porque a electricidade também dança - e definitivamente pop, isto tendo em conta o background primário de cada um dos intervenientes.
Porquê a utilização do termo "pop"? Porque é visível que nos anbb existe um cuidado em ir além da simples experimentação e criar algo semelhante ao que coloquialmente apelidamos de "canção"; como no caso das versões e de "Bernsteinzimmer", onde a voz de Bargeld age sobreposta à base melódica de Nicolai e não apenas como outro instrumento musical. Não que tal seja algo de novo na vida deste punk veterano - basta dar um pulo a "Sabrina" ou "Stella Maris", ambas da década de 90 dos Neubauten, para percebermos que qualquer estranheza no que toca à utilização do termo se prende exclusivamente com Alva Noto. Indo além destas conjugações, concluamos que Mimikry conjuga momentos de um de de outro, de "experimental" e de "pop", e o resultado é um disco onde ambos artistas se complementam na perfeição.
Mimikry pode ser encarado como uma evolução, ou uma extensão, de Ret Marut Handshake; quatro das canções do EP encontraram o seu espaço aqui, sobrando apenas "Electricity Is Fiction" (o que é uma pena) e sendo que duas foram alargadas sob o epíteto de "Long Version". O ponto alto e inevitável é "Fall", isto para quem esteve presente na apresentação do duo ao vivo no Maria Matos; o grito, a reacção mais básica do ser humano - que ao nascer a ele recorre - aqui reproduzido vezes sem conta, ressoando no ouvido interno (no volume certo) e tornando-nos parte integral do tema. Dura apenas dois minutos antes de terminar em spoken word e ambiência glitch, mas cumpre um propósito importante: dá-nos a conhecer o estranho mundo dos anbb e serve como empurrão para que não temamos o que vem a seguir.
E o que vem a seguir é "Once Again", onde Blixa tem uma prestação vocal digna de um pesadelo retirado a um conto de criança, intervalada com uma espécie de refrão: I don't know if I wanna be there once again. E mesmo que termine com I'm not going back! antes da última repetição, é precisamente isso que faz: "One" continua belíssima, "Ret Marut Handshake" igual a si mesma e "Bernsteinzimmer", tal como "I Wish I Was A Mole In The Ground", recebem novo tratamento. Mas se no primeiro caso é algo inócuo, no segundo desvirtua-o completamente, adicionando-lhe mais vocais maníacos. Um ponto ligeiramente negativo, que não desilude, mas incomoda; não tanto que não apreciemos devidamente aquela que será a "segunda metade" do disco, onde se encontra o tema-título (ritmo techno-industrial sob declamações surrealistas), e "Katze", que já havia conhecido edição física numa compilação editada em França; aqui não são os gatinhos fofinhos com dizeres cómicos como "I has a sad" que tomam a palavra, mas os miados e ronronares de Veruschka von Lehndorff, ex-actriz e modelo alemã. O resultado é perturbadoramente infantil - mas depois de "Fall" já nada nos deverá assustar.
Mimikry é sem sombra de dúvida um happening de registo entre dois dos mais importantes nomes da música dita experimental, e um facto interessante é ambos provirem de partes distintas da hoje reunificada Alemanha: Blixa é ocidental, Nicolai de leste. Que esta conjugação venha "adulterada" de alguma forma com tons pop é uma mais-valia, e serve para agradar tanto à velha guarda como a quem apenas recentemente se viu liberto para este género de sonoridade. Irrelevantemente de quem perturba ou não, este casamento promete.
Paulo CecílioPorquê a utilização do termo "pop"? Porque é visível que nos anbb existe um cuidado em ir além da simples experimentação e criar algo semelhante ao que coloquialmente apelidamos de "canção"; como no caso das versões e de "Bernsteinzimmer", onde a voz de Bargeld age sobreposta à base melódica de Nicolai e não apenas como outro instrumento musical. Não que tal seja algo de novo na vida deste punk veterano - basta dar um pulo a "Sabrina" ou "Stella Maris", ambas da década de 90 dos Neubauten, para percebermos que qualquer estranheza no que toca à utilização do termo se prende exclusivamente com Alva Noto. Indo além destas conjugações, concluamos que Mimikry conjuga momentos de um de de outro, de "experimental" e de "pop", e o resultado é um disco onde ambos artistas se complementam na perfeição.
Mimikry pode ser encarado como uma evolução, ou uma extensão, de Ret Marut Handshake; quatro das canções do EP encontraram o seu espaço aqui, sobrando apenas "Electricity Is Fiction" (o que é uma pena) e sendo que duas foram alargadas sob o epíteto de "Long Version". O ponto alto e inevitável é "Fall", isto para quem esteve presente na apresentação do duo ao vivo no Maria Matos; o grito, a reacção mais básica do ser humano - que ao nascer a ele recorre - aqui reproduzido vezes sem conta, ressoando no ouvido interno (no volume certo) e tornando-nos parte integral do tema. Dura apenas dois minutos antes de terminar em spoken word e ambiência glitch, mas cumpre um propósito importante: dá-nos a conhecer o estranho mundo dos anbb e serve como empurrão para que não temamos o que vem a seguir.
E o que vem a seguir é "Once Again", onde Blixa tem uma prestação vocal digna de um pesadelo retirado a um conto de criança, intervalada com uma espécie de refrão: I don't know if I wanna be there once again. E mesmo que termine com I'm not going back! antes da última repetição, é precisamente isso que faz: "One" continua belíssima, "Ret Marut Handshake" igual a si mesma e "Bernsteinzimmer", tal como "I Wish I Was A Mole In The Ground", recebem novo tratamento. Mas se no primeiro caso é algo inócuo, no segundo desvirtua-o completamente, adicionando-lhe mais vocais maníacos. Um ponto ligeiramente negativo, que não desilude, mas incomoda; não tanto que não apreciemos devidamente aquela que será a "segunda metade" do disco, onde se encontra o tema-título (ritmo techno-industrial sob declamações surrealistas), e "Katze", que já havia conhecido edição física numa compilação editada em França; aqui não são os gatinhos fofinhos com dizeres cómicos como "I has a sad" que tomam a palavra, mas os miados e ronronares de Veruschka von Lehndorff, ex-actriz e modelo alemã. O resultado é perturbadoramente infantil - mas depois de "Fall" já nada nos deverá assustar.
Mimikry é sem sombra de dúvida um happening de registo entre dois dos mais importantes nomes da música dita experimental, e um facto interessante é ambos provirem de partes distintas da hoje reunificada Alemanha: Blixa é ocidental, Nicolai de leste. Que esta conjugação venha "adulterada" de alguma forma com tons pop é uma mais-valia, e serve para agradar tanto à velha guarda como a quem apenas recentemente se viu liberto para este género de sonoridade. Irrelevantemente de quem perturba ou não, este casamento promete.
pauloandrececilio@gmail.com
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