DISCOS
Matthew Dear
Black City
· 21 Out 2010 · 09:58 ·

Matthew Dear
Black City
2010
Ghostly International
Sítios oficiais:
- Matthew Dear
- Ghostly International
Black City
2010
Ghostly International
Sítios oficiais:
- Matthew Dear
- Ghostly International

Matthew Dear
Black City
2010
Ghostly International
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- Matthew Dear
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Black City
2010
Ghostly International
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- Matthew Dear
- Ghostly International
Pop que escreve direito por linhas tortas.
A pop tem muitas vidas. E continuará a viver enquanto for sustentada criativamente pelo melhor que cada músico tem para dar. Veja-se o caso de Matthew Dear que tendo começado nos meandros do house e do techno, foi recorrendo cada vez mais à gramática mais complexa da pop para atingir novos estádios de extrapolação da vida que o rodeia imprimindo os resultados na matriz da sua música. Nesse mesmo processo nunca perdeu a oportunidade para extrair riqueza estética do passado para acrescentar mais-valia no futuro.
Tem sido assim, essencialmente, desde Backstroke (2004) – e fortes confirmações em Asa Breed (2007) – com constantes andamentos de uma pop dissimulada, de corte irregular, audaz, obscura, suportada por vocalizações grotescas e uma escrita que recorre amiúde à ironia para se tentar fazer entender. Black City, o novo disco, não abandona o mecanismo que fez dos discos anteriores obras pertinentes para perceber o que move a pop nestes dias, retomando as coordenadas elementares para dar, sem meias medidas, um novo passo em frente.
Dos estímulos exteriores, este norte-americano – natural do Texas – volta a arrancar às entoações obliquas de Brian Eno as variantes atmosféricas essenciais que tonificam o espaço; dos Talking Heads ambiciona a persistente, mas nunca impertinente, naive melodie; de Bowie adapta subtilmente a postura irónica de uma irreverência amadurecida pela ditadura do tempo. O resto com que nos deparamos em Black City é o temperamento do seu autor e do fluxo criativo que o leva a contorcer as linguagens da electrónica – com apelo funk – para que se ajustem ao conto das experiências pessoais.
Há harmonia na escuridão. Há certezas na dúvida. Há olhares desconfiados. Há sedução repelida mas desejada. Há figuras de estilo numa corrente agitadora que procura o equilíbrio sério e honesto entre o que as pessoas são e o que deveriam ser, entre a alegria e a tristeza. As canções, inspiradas na Nova Iorque onde autor reside actualmente, falam de coisas concretas que nem sempre são entendidas no primeiro acto. Tal como as diversas estruturas melódicas que, proporcionalmente, tanto apresentam texturas fascinantes e faustosas como complexas e impenetráveis.
Porque é definitivamente de canções de cunho pessoal que se trata, Black City vive de balanços incertos, de génios temperados, de garrafas de whisky depois de deambulações nocturnas. Escorre melancolia e solidão pelas paredes opacas de um disco que tem na singularidade das contradições a sua verdadeira força; e basta ouvir no fim o belíssimo "Gem" para que todo o início que "Honey" representa possa fazer sentido. Assim se mantém a vitalidade da pop, mesmo que se tenha de voltar ao princípio várias vezes para que tudo lentamente se encaixe no lugar certo.
Rafael SantosTem sido assim, essencialmente, desde Backstroke (2004) – e fortes confirmações em Asa Breed (2007) – com constantes andamentos de uma pop dissimulada, de corte irregular, audaz, obscura, suportada por vocalizações grotescas e uma escrita que recorre amiúde à ironia para se tentar fazer entender. Black City, o novo disco, não abandona o mecanismo que fez dos discos anteriores obras pertinentes para perceber o que move a pop nestes dias, retomando as coordenadas elementares para dar, sem meias medidas, um novo passo em frente.
Dos estímulos exteriores, este norte-americano – natural do Texas – volta a arrancar às entoações obliquas de Brian Eno as variantes atmosféricas essenciais que tonificam o espaço; dos Talking Heads ambiciona a persistente, mas nunca impertinente, naive melodie; de Bowie adapta subtilmente a postura irónica de uma irreverência amadurecida pela ditadura do tempo. O resto com que nos deparamos em Black City é o temperamento do seu autor e do fluxo criativo que o leva a contorcer as linguagens da electrónica – com apelo funk – para que se ajustem ao conto das experiências pessoais.
Há harmonia na escuridão. Há certezas na dúvida. Há olhares desconfiados. Há sedução repelida mas desejada. Há figuras de estilo numa corrente agitadora que procura o equilíbrio sério e honesto entre o que as pessoas são e o que deveriam ser, entre a alegria e a tristeza. As canções, inspiradas na Nova Iorque onde autor reside actualmente, falam de coisas concretas que nem sempre são entendidas no primeiro acto. Tal como as diversas estruturas melódicas que, proporcionalmente, tanto apresentam texturas fascinantes e faustosas como complexas e impenetráveis.
Porque é definitivamente de canções de cunho pessoal que se trata, Black City vive de balanços incertos, de génios temperados, de garrafas de whisky depois de deambulações nocturnas. Escorre melancolia e solidão pelas paredes opacas de um disco que tem na singularidade das contradições a sua verdadeira força; e basta ouvir no fim o belíssimo "Gem" para que todo o início que "Honey" representa possa fazer sentido. Assim se mantém a vitalidade da pop, mesmo que se tenha de voltar ao princípio várias vezes para que tudo lentamente se encaixe no lugar certo.
r_b_santos_world@hotmail.com
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