DISCOS
Sleigh Bells
Treats
· 13 Out 2010 · 10:21 ·
Sleigh Bells
Treats
2010
Mom+Pop


Sítios oficiais:
- Sleigh Bells
- Mom+Pop
Sleigh Bells
Treats
2010
Mom+Pop


Sítios oficiais:
- Sleigh Bells
- Mom+Pop
Terapia de choque noise pop com o drive no máximo.
Tudo começa da forma mais romântica e cliché possível: o rapaz que servia à mesa confessa às clientes – mãe e filha – que precisava duma vocalista. A garota não vai de modas e envolve-se com o ex guitarrista de hardcore dos Poison The Well, a quem poderá apenas oferecer uma voz celestial. Moral da estória: sai um disco de noise pop distorcido da cabeça ao pescoço, sobrando a limpeza e cristalinidade na cabeça de Alexis Krauss.

Treats combina duas vertentes óbvias: o drive fortemente imprimido nas guitarradas e nas secções rítmicas – com distorções que fariam os Fuck Buttons rir mas, por outro lado, riffs que parecem ter passado ao lado de Jack White – misturado com a pop mais mainstream de sempre concentrada nas vocalizações. Ironicamente, enquanto produto acabado, resulta numa harmonia que, à partida, poderia parecer inconciliável. Em comparação, embora em patamares um tanto ou quanto distintos, tanto os The Kills como os Yeah Yeah Yeahs acabaram por seguir a veia da esquizofrenia das suas vocalistas-líderes, chutando o lado pop para a instrumentalização.

Aqui não. Mas a coisa não é fácil de alcançar. E, como qualquer subgénero que se esfarrapa por explorar ao máximo uma ideia, pode entediar. Até “Rachel”, todas as faixas possuem os elementos necessários do sucesso, residam eles num riff, numa batida preponderante ou numa frase entesada. Escondidos estão ainda alguns traços de aerodance, como no final de “Tell ‘Em”, um dos melhores hits da dupla, em que a distância das guitarras saturadas e distorcidas e da voz melodiosa de Krauss é mais acentuada; mas isso não é razão para deixar esquecido um bom sintetizador. Por outro lado, há aqueles momentos evitáveis de guitarra acústica só para fazer a vontade à menina. Foda-se, isto é noise ou não? – ouça-se “Straight A’s” e “Infinity Guitars” e far-se-á luz.

Esqueçam-se as excepções e admire-se a duração de cada faixa. A maioria não ultrapassa os três minutos, despejando toda a electricidade a cada segundo que passa. A terapia de choque só faz sentido assim, recorrendo a pequenas descargas noise temperadas com pop choninhas. É esta a antítese do momento.
Simão Martins
simaopmartins@gmail.com
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