Há bandas que ficarão para sempre sob a sombra do sucesso dos Arcade Fire. Bandas talentosas, com excelentes álbuns no currículo, que tardam em vingar ou não vingam sequer fora do espectro alternativo. Convenhamos que não é o miúdo com óculos de massa e um Facebook altamente que vai dar impulso a um disco na tabela de vendas; esse mérito está reservado a donas de casa, cinquentões que ouviam os U2 nos anos 80, homens de fato e gravata que especificam aos empregados das suas lojas que discos colocar nos tops. É preciso não uma faísca, mas um incêndio que arrebate completamente a população que (ainda) ouve rádio mainstream a ponto de quererem realmente comprar (e não sacar) um álbum de uma banda fora da pop fácil das gajas boas. O que só atribui maior mérito aos canadianos.

Fale-se contudo de outros canadianos: estes que acabam de editar Together, quinto álbum de originais repleto de canções bonitas para nos deixarem 1) embevecidos 2) a cantarolar feitos maníacos. Há dúvidas? Eles próprios o reconhecem, na deliciosa "Moves", que abre o disco: Slow to singalong crawl.... Seja pelos ganchos corais, pela falta de pudor em querer soar como uma banda de estádio ou pela sempre atraente Neko Case, há muito que os New Pornographers merecem sair do estatuto indie. A estupefacção de quem perde tempo a pensar nas razões pelas quais isso ainda não aconteceu (como eu) agudiza-se em canções power-pop como "Sweet Talk, Sweet Talk", "Up In The Dark" ou "A Bite Out Of My Bed". Os New Pornographers - e que se deixe, enfim, de pensar neles como um supergrupo - não deixam nada por mãos alheias; cada instrumento é para ser ouvido com atenção, cada nota é para ser avaliada.

Falar de tudo isto e juntar-lhe o facto de que Beirut e St. Vincent também dão uma perninha é dizer que Together não engana: é dos álbuns mais bem produzidos do ano e com certeza que figurará em muitas listas. Que o contrário suceda é sinal de que ainda há injustiças no mundo - e, nessa situação, urge que muitos mais Togethers surjam por aí. Fazem falta mais discos com potencial para acabar com elas ao mesmo tempo que nos esquecemos de que existem. E há melhor título para um álbum tão social?