CMYK concretiza a maior das funções de um EP: a de deixar água na boca. Quem o assina é James Blake, um jovem londrino com pouco mais do que 20 anos que anda a provocar pequenos abanões nos fóruns virtuais (e não virtuais) da música electrónica deste mundo. E é tudo perfeitamente justificado. Depois de alguns singles e o EP The Bells Sketch, James Blake largou a bomba. E a bomba são quatro canções que mostram um artesão sonoro com mais astúcia do que a sua idade poderia indicar; são quatro canções que mostram mais uma vez que às vezes é mesmo preciso ir ao passado para se fazer futuro.

CMYK é um disco apostado nos samples; mais, um disco, apostado em resgatar o R&B dos anos 90. Mas está longe se ser apenas um disco de samples. Ainda que a canção-título «CMYK» se construa de retalhos de "Caught Out There" de Kelis e "Are You That Somebody” de Aaliyah, releva uma destreza enorme na altura de equilibrar tantas electrónicas, tantos afluentes; é uma erupção sonora que releva um bom gosto muito acima da média e uma adorável tensão entre a modernidade e aquilo que já é clássico. Não é muito fácil esquecer as maravilhas do dubstep (com Burial à cabeça), mas é impossível não reconhecer a James Blake um cunho próprio na forma como constrói canções.

No EP que tem pouco mais do que 15 minutos, destaca-se ao lado de “CMYK” uma outra canção: chama-se “I’ll Stay” e soa como se alguém enfiasse 101 clássicos do funk numa misturadora conhecida pelo seu minimalismo. E diz-nos ao mesmo tempo: ei, o James Blake é gajo para fazer mais do que uma canção enorme no espaço de 15 minutos. E ainda diz: ei, porra, este gajo é bom. Mesmo a fechar, “Postpone” deixa estampada no ar uma explosão de cores que justifica o título deste EP e que transforma James Blake numa das next big things da música electrónica.